O relatório anual da organização não-governamental Freedom House destaca o Brasil como exemplo de países onde líderes eleitos democraticamente ameaçam ou tomam medidas anti-democráticas, contribuindo para o enfraquecimento dos valores democráticos a nível internacional.

“Líderes eleitos livremente do Brasil até à Índia tomaram ou ameaçaram tomar medidas antidemocráticas e a consequente quebra de valores partilhados entre as democracias levou a um enfraquecimento desses valores no cenário internacional”, escrevem os autores do relatório, esta quinta-feira publicado.

O relatório, que avalia o nível de liberdade em 195 países e 15 territórios em 2021, faz um retrato sombrio da democracia no mundo, concluindo que 60 países sofreram declínios nos direitos políticos e liberdades civis no ano passado, enquanto apenas 25 melhoraram.

Numa escala em que avalia os direitos políticos e as liberdades civis dos países em 25 indicadores e os classifica como “livres”, “parcialmente livres” ou “não livres”, o relatório conclui que 38% da população mundial vive em países sem liberdade, 42% em liberdade parcial e apenas dois em cada dez cidadãos do mundo vivem em países livres.

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Mas mesmo nos países livres, a democracia está a ser enfraquecida por forças iliberais, “incluindo por políticos sem escrúpulos que estão dispostos a corromper e destruir as mesmas instituições que os levaram ao poder”, sublinham os autores do relatório, exemplificando com o ataque ao Capitólio norte-americano em 06 de janeiro do ano passado, após o Presidente derrotado, Donald Trump, classificar de fraudolentas as eleições Presidenciais nos EUA.

Numa altura em que o Brasil se prepara para realizar eleições gerais em outubro deste ano, o Presidente, Jair Bolsonaro, “ecoou Trump ao alegar preventivamente que o voto será fraudulento”, sublinha o relatório.

“Tendo justificado as suas alegações com uma assunção infundada de que o sistema de votação eletrónica não é confiável, Bolsonaro pressionou uma emenda constitucional, que acabou por ser rejeitada, que forneceria boletins de voto impressos”, recorda.

Para os especialistas, esta medida “daria credibilidade a alegações infundadas de fraude e poderia aumentar o potencial de intimidação de eleitores e compra de votos”, alertam os autores do relatório, lamentando que as alegações de fraude eleitoral se estejam a normalizar.