Milhares de pessoas manifestaram-se este sábado em Atenas em protesto contra o aumento do custo de vida no país, apesar da atividade no setor do turismo ter começado a recuperar, após as duras medidas restritivas de combate à pandemia.

Apesar da melhoria do turismo, a explosão dos preços está a pesar no clima social do país, sendo que hoje, em Atenas, milhares de manifestantes concentraram-se junto do Parlamento grego, convocadas pelo sindicato comunista PAME, para protestarem contra a subida da inflação e contra a legislação do trabalho que aumenta a flexibilidade laboral.

“Somos um rio de raiva e indignação”, disse à AFP o dirigente do sindicalista do setor siderúrgico, Panagiotis Doukas. “Reivindicamos o direito a uma vida digna”, advertiu o sindicalista, adiantando que se opõem com “um inequívoco ‘não’ às decisões políticas antipopulares que dilaceraram a vida das pessoas”.

Em janeiro deste ano, os preços registaram um aumento homólogo de 6,2%, um recorde, que a invasão da Ucrânia pela Rússia pode fazer subir ainda mais.

Em declarações à AFP, o professor de economia da Universidade de Atenas, Panagiotis Petrakis, afirmou que por causa da atual situação económica do país e da envolvente externa, “a inflação pode subir, em média, para mais de 2% em 2022”.

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De acordo com dados oficiais, em janeiro, os preços da eletricidade subiram 56%, os dos combustíveis (21,6%) e os preços do gás natural 156%. O governo conservador no poder na Grécia prometeu, entretanto, “ajuda aos mais vulneráveis” e um aumento do salário mínimo, atualmente em cerca de 650 euros por mês, salientou Petrakis, avisando que o espetro da pobreza existe.

Na sexta-feira à noite, o ministro das Finanças, Christos Staikouras, afirmou que a Grécia concluiria o pagamento antecipado dos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e que assim poderia “apoiar as famílias e as empresas”.

Com uma taxa de desemprego na ordem dos 13%, uma das mais altas da zona do euro, a Grécia ainda carrega, por outro lado, o peso do legado da crise financeira que a atingiu entre 2010 e 2018.

A Grécia segue atrás da Bulgária e da Roménia quanto ao risco de exclusão social, com mais de um quarto da população (28,9%) em risco de pobreza, segundo dados de 2020 da Rede Anti-Pobreza Grega. “Cerca de 44,6% dos agregados familiares dizem ter dificuldade em pagar as rendas ou hipotecas” e “16,7% não têm aquecimento adequado” nas suas habitações, de acordo com a mesma fonte.

A oposição de esquerda exige agora um aumento da ajuda social, depois de o governo grego ter canalizado um pacote financeiro de seis mil milhões de euros para o programa de armamento do país. A pandemia de covid-19 deu um rude golpe na economia grega, que está a emergir da depressão em que o país perdeu um quarto de seu Produto Interno Bruto (PIB), com os salários e as pensões congeladas.

Mas, com a recuperação do turismo – que representa cerca de um quarto da criação de riqueza do país e onde arrecadou mais de 10.000 milhões de euros em 2021 -, bem como com os programas financeiros da União Europeia, a Grécia recuperou terreno no ano passado.

No entanto, tem ainda difíceis problemas pela frente como os baixos salários, além de ter de combater o problema do risco de pobreza da sua população.