Carlos Tavares, o português à frente da Stellantis, o 4.º maior grupo automóvel mundial, continua a “dar uma no cravo e outra na ferradura”, no que respeita à sua posição em relação aos veículos eléctricos. O gestor critica os veículos eléctricos por serem “caros”, por “os clientes não os quererem e estarem a ser impostos por Bruxelas” e “por ainda não haver uma rede de carga à altura”. Mas agora veio a público, numa reunião com accionistas, defender que, “apesar de os automóveis alimentados exclusivamente por bateria serem 40% a 50% mais caros de fabricar”, o grupo italo-americano-francês está decidido a “continuar a apostar nesta nova tecnologia”.

A Stellantis reivindica possuir 19 modelos 100% eléctricos nas gamas das 14 marcas que comercializa globalmente, com Tavares a prometer continuar a fazer crescer a oferta. Mas não sem deixar de recordar que este tipo de veículos é mais caro de fabricar. Apesar disto, o grupo obteve lucros muito interessantes em 2021, ligeiramente acima dos 13,4 mil milhões de euros, o que justificou uma distribuição de 1900 milhões de euros pelos empregados, como bónus.

No decurso da reunião relativa ao anúncio de resultados, Tavares comparou os custos superiores da fabricação de veículos eléctricos face aos rivais equipados com motores de combustão, que podem atingir 50%, recordando que “estes são custos que o grupo não pode passar para os clientes”, uma vez que desta forma os modelos deixariam de ser competitivos. A Stellantis chegou há tempos à conclusão que poderia reduzir os custos de produção dos veículos com motores de combustão “apertando” com os fornecedores, aproveitando o generoso incremento do volume de compras com a criação do grupo originado pela fusão da francesa PSA com a italo-americana FCA.

A (má) performance financeira dos eléctricos da Stellantis poderá dever-se, sobretudo, ao pouco ambicioso investimento do grupo nesta nova tecnologia, uma vez que dos 19 veículos 100% eléctricos que o grupo possui, na Europa apenas o Fiat 500e recorre a uma plataforma específica para esta classe de veículos. É possível que, se a Stellantis produzisse todos os seus EV sobre plataformas concebidas exclusivamente para veículos 100% eléctricos, produzidos em fábricas também elas específicas e montando packs de baterias formados por células de produção própria, reduzindo assim os custos face à actual aquisição a fabricantes de acumuladores chineses, os custos unitários fossem inferiores e as margens mais aliciantes, como acontece em alguns concorrentes.

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