A meia-final do Europeu de futsal entre Rússia e Ucrânia, no início de fevereiro e quando se falava apenas no clima de tensão que se vivia entre os dois países, gerou particular desconforto na UEFA apesar de tudo ter corrido da melhor forma na Ziggo Dome, em Amesterdão. Razão? Desde 2007 que não havia qualquer confronto entre os dois países em competições organizadas pela UEFA. E no futebol, por exemplo, não se cruzam desde as eliminatórias de qualificação para o Campeonato da Europa de 2002. Mais: como recordou o The Guardian nessa altura, desde a invasão da Crimeia que levou a que passassem a ter sempre potes diferentes nos sorteios, houve apenas uma partida e no Europeu de futsal feminino, em 2019.

Muita tensão, segurança reforçada, um alegado aumento de prémio. Afinal, era só um jogo. E a Rússia venceu a Ucrânia

É assim nas modalidades sob a égide da UEFA, nem sempre é assim noutras modalidades. E ainda este mês surgiram alguns exemplos de como o desporto pode fazer as pontes que outros destroem, como se viu no pódio do esqui acrobático com o simbólico abraço entre o ucraniano Oleksandr Abramenko e o russo Ilya Burov, vencedores das medalhas de prata e bronze no esqui acrobático dos Jogos Olímpicos de Pequim (e que já tinham registado mesmo momento quatro anos antes em PyeongChang, na Coreia do Sul) e como se vê no novo e crescente mundo dos e-sports, onde russos e ucranianos competem nas mesmas equipas.

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No entanto, e cada vez mais, tudo tem o seu tempo e o seu contexto. E um conjunto ucraniano decidiu tomar uma posição de força perante aquilo que considera ser um passar de todas as linhas vermelhas.

Este domingo, quando a Taça do Mundo de esgrima que se está a realizar no Estádio Internacional do Cairo, no Egito, chegou aos oitavos a prova de florete por equipas, a Ucrânia decidiu retirar-se da competição por não querer defrontar a formação da Rússia, explicando o porquê do gesto e saindo do recinto com uma pequena placa que dizia “Parem a guerra, salvem a Ucrânia”. E o momento teve ainda mais impacto porque se percebe no vídeo que dois dos atletas russos ainda batem palmas à ação por alguns segundos.

A equipa ucraniana saiu do Estádio Internacional de Cairo debaixo de uma grande ovação dos presentes, naquele que foi o grande momento de uma competição que em condições normais não deixaria de ser só uma Taça do Mundo de esgrima mas que rapidamente se tornou viral como as inúmeras manifestações de apoio ao país e pedidos para o fim da guerra que se têm alastrado por vários países em várias modalidades. “Este é o nosso protesto contra a guerra. Não podemos competir contra eles enquanto as nossas famílias estão em perigo, enquanto todos estão em perigo no nosso país”, explicou depois a equipa em comunicado.

Outro dos pontos que não passou ao lado foi o facto de a Federação Internacional de Esgrima ser liderada pelo russo Alisher Usmanov, um magnata que fez fortuna com o colapso da União Soviética e que é alguém muito próximo do presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, desde os anos 90. Usmanov é também acionista do Arsenal, o que tem motivado nos últimos dias muitas questões entre outros clubes da Premier League que pedem uma tomada de posição tal como aconteceu com Roman Abramovich no Chelsea.