Os rendimentos do Santuário de Fátima terão rondado os 15 milhões de euros em 2021, valor que permite ao reitor, Carlos Cabecinhas, encarar o futuro com otimismo.

Apesar de os números relativos a 2021 serem ainda provisórios (as contas só são fechadas entre abril e maio de cada ano), Carlos Cabecinhas revelou-os na quinta-feira, atendendo a que “dão um sinal de retoma” após a “situação económica difícil” motivada pela pandemia de Covid-19.

Tivemos, em 2020, uma perda de 53,7% das nossas receitas em relação a 2019. Embora não estejam apurados todos os valores de 2021, sabemos que as perdas serão bem menos significativas”, afirmou o reitor, durante o 43.º encontro de hoteleiros e responsáveis de casas religiosas que acolhem peregrinos.

O responsável lembrou que, entre 14 de março de 2020 e outubro de 2021, “Fátima esteve quase seis meses sem qualquer peregrino [de forma organizada] e mais de três meses com inúmeros constrangimentos à circulação das pessoas”.

Esta situação levou a que, se em 2019 os rendimentos do santuário tinham sido de 20,3 milhões de euros, em 2020 baixaram para 9,4 milhões de euros.

“Recebemos menos 10,9 milhões de euros”, lamentou Carlos Cabecinhas, acrescentando que, em 2021, “os rendimentos rondarão os 15 milhões de euros”, de acordo com os dados provisórios.

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Segundo o reitor, “a variação de rendimentos entre 2019 e 2020 foi de 53,7%, mas se a comparação for entre 2019 e 2021 a variação é menor, de apenas 26,3%”.

Apesar dos esforços feitos, os encargos não diminuíram na mesma proporção: “Passámos de 18,9 milhões de euros em gastos em 2019 para 15,2 milhões em 2020 e 14,2 milhões em 2021”.

“Os nossos gastos em 2020 apenas diminuíram 19,5%. Mas prosseguiu o esforço e conseguimos reduzir os gastos em cerca de 25%, quando comparados com os de 2019”, sublinhou.

O responsável explicou que “a maior fatia dos gastos do santuário é com o pessoal”, que em 2019 representou seis milhões de euros, mais 8,3% do que em 2020 (5,6 milhões de euros).

“Em 2021, estimamos que os gastos com pessoal se situem perto dos cinco milhões, isto é, nestes dois anos fizemos uma redução progressiva e significativa”, disse o reitor, acrescentando que estes gastos foram reduzidos sem recorrer a despedimentos.

Carlos Cabecinhas justificou a divulgação agora destes números “em nome da transparência, procurando corresponder aos apelos do papa Francisco e por decisão do Conselho Nacional do Santuário de Fátima”.

“Estes valores são auditados por entidade externa e aprovados pelos órgãos próprios”, sublinhou.

Em 2021, o Santuário de Fátima registou cerca de 2,4 milhões de peregrinos (mais um milhão do que em 2020), num conjunto de 5.077 celebrações (mais 693 do que em 2020). Em 2019, o número de peregrinos tinha sido 6,3 milhões.

“Se dúvidas houvesse, este tempo mostrou-nos como dependemos dos peregrinos e como precisamos deles e da sua presença”, afirmou.

No seu entender, “a recuperação será necessariamente lenta”, tendo ficado a impressão de que, sobretudo depois de 2021, “os peregrinos portugueses, assim que tiveram oportunidade, regressaram a Fátima”, mesmo sem ser em grupos organizados.

“A grande lacuna, neste momento, continua a ser os grupos estrangeiros”, referiu.

Segundo o reitor, a situação de pandemia mostrou também a importância da “aposta na comunicação e concretamente na comunicação digital”.

“Queremos ter os peregrinos presencialmente em Fátima, mas sentimos também que não podemos deixar de levar Fátima aos peregrinos que não podem vir e aos peregrinos quando não podem vir”, frisou.

Ao dirigir-se pela última vez aos hoteleiros como responsável pela diocese de Leiria-Fátima, o cardeal António Marto lembrou que “tinha sido um teólogo cético em relação ao acontecimento e ao fenómeno de Fátima”.

“Fui muito relutante em aceitar vir para bispo de Fátima. Resisti quanto pude à solicitação que me era feita. Demorou mês e meio até eu dizer o sim”, contou.

No entanto, segundo o cardeal, Fátima “estranha-se, não no sentido pejorativo, no sentido de deslumbramento”, mas depois “entranhou-se no coração do pastor”.