“É um orgulho enorme estar nesta casa e defender estas cores. Sei o que é o Sporting, independentemente do momento. Acredito no clube e espero que acreditem em mim. Posso tentar convencer os sportinguistas que não acreditam em mim mas interessa quem ganha. Estou preparado para este desafio. Existe projeto a longo prazo e queremos valorizar jogadores, clube e formação. Conheço a formação do Sporting mas vou inteirar-me mais. Passa por voltar à melhor escola de Portugal, queremos voltar a ser o número 1.

Sporting vence Arouca com bis de Slimani e pressiona FC Porto na liderança da Liga

Os adeptos do Sporting querem é ganhar, independentemente desse valor. O primeiro treino que já tinha preparado seria igual mesmo que tivesse custado zero euros em vez de dez milhões. Nada muda em mim por isso. Quando puseram essa cláusula no Sp. Braga comecei-me a rir, nunca pensei que alguém ia gastar aquele dinheiro comigo, mas aconteceu isto e agradeço a confiança. No fim faremos as contas. Onde estou é onde quero ganhar. Seria mais cómodo esperar pelo fim da época mas em primeiro está o Sporting. Temos de ganhar tempo para a próxima época, sabendo que se não ganharmos pode não haver época.

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Foi o conceito que me motivou. Não falámos em reforços, apenas em ideias para o clube. Fiquei motivado, sei do desafio e das dificuldades, mas estamos preparados. Queremos fazer as coisas com tempo, lembrando que temos ainda esta época. O foco é o que queremos para o futuro. Porque saí do Sp. Braga? Por motivos financeiros não foi. Se não ganhasse aqui, ia ganhar noutro lugar. Falam do risco de poder correr mal mas pergunto: e se corre bem? O facto de o Sporting precisar de uma nova vida… E se conseguirmos fazer isso? Talvez tenha escolhido o desafio mais difícil mas foi o que quis.

Sou um treinador, sou uma peça aqui. Havendo, não resolvo os problemas todos. O nosso foco é o treino e os jogadores. Certamente seria mais fácil dizer que para o ano vamos lutar pelo título… Vamos correr mais do que os outros e no fim fazem-se as contas. Sporting é o Sporting, entramos para vencer e no fim logo se vê. Fanático do Benfica? Sou um profissional do futebol e um fanático em ganhar. Há poucas semanas dei esse exemplo com todos os clubes em Portugal. O meu foco é defender esta casa, como defendi o Casa Pia, com as devidas diferenças, o meu empenho é igual em todos. Sei a grandeza deste clube, fui adversário muitos anos. Não escondo o meu passado e como adversário conhecemos a grandeza dele. Conheço a grandeza do Sporting. Ninguém aqui quer mais ganhar do que eu, digo-o com toda a tranquilidade.”

Um. Apenas um. Mesmo só um. Entrando num DeLorean como aquele que fez a saga do Regresso ao Futuro e voltando ao início de março de 2020, sobrava um jogador em relação ao primeiro onze que Rúben Amorim colocou em campo na estreia pelo Sporting frente ao Desp. Aves. Sebastian Coates, El Comandante que está prestes a celebrar um contrato que o colocará quase como vitalício até ao final da carreira, já era até capitão. Assim se mantém. Mas, mais uma vez, esse é o único ponto em comum com o que se vivia nessa era. E, em dia de eleições, basta recordar as supracitadas palavras de Rúben Amorim há exatamente dois anos, no dia em que foi apresentado no hall VIP por Frederico Varandas, para se perceber o que é cumprir programa.

Diferença 1. Se na altura todos duvidavam do negócio feito pelo presidente leonino, visto como uma espécie de all in numa fase particularmente conturbada do mandato, fosse pela parte desportiva de quem só tinha 13 jogos na Primeira Liga, fosse pela parte financeira de uma contratação que superava os dez milhões de euros, algo que apenas Bas Dost tinha custado até aí, hoje todos acham que 2024 ainda é pouco para segurar um treinador que em dois anos se tornou um dos mais titulados de sempre, ganhou quatro troféus só no último ano (um Campeonato, duas Taças da Liga e uma Supertaça), conduziu os leões aos oitavos da Champions pela segunda vez na história e tornou a equipa competitiva como há muito não se via em Alvalade.

Diferença 2. A equipa do Sporting que não tinha muito crédito e cada vez mais perdia valor mudou de forma radical logo a partir da interrupção pela pandemia, com o lançamento de jovens jogadores como Nuno Mendes, João Palhinha, Matheus Nunes, Gonçalo Inácio, Daniel Bragança ou Tiago Tomás a que se juntaram contratações cirúrgicas que mudaram por completo a política desportiva verde e branca até aí, casos de Pedro Gonçalves, Adán, Feddal, Nuno Santos, Paulinho, Ugarte, Matheus Reis ou mais recentemente Sarabia (um bom exemplo do tipo de empréstimo que seria impossível num contexto como o de 2020) ou Slimani.

Diferença 3. Se naquela altura eram organizadas manifestações contra Frederico Varandas por todo um acumular de situações ao longo de ano e meio de mandato que tinha como última gota o investimento feito em Rúben Amorim, discutindo-se pedidos de demissão e Assembleias Gerais destitutivas, hoje o aglomerado de pessoas que se viu naquela zona entre o Pavilhão João Rocha e o Multidesportivo de Alvalade era apenas justificado pela afluência às urnas ou por grupos de amigos que se encontram para ir ao futebol (e os pouco mais de 25.000 espectadores nesta fria noite de sábado foram a única nota negativa do encontro, depois de duas casas cheias com Manchester City e FC Porto recentemente, na Champions e na Taça de Portugal).

Dois anos depois, tudo mudou. E se este sábado foi dia de eleições para uma mais do que provável reeleição de Frederico Varandas, líder do clube verde e branco que ficará sempre como aquele que apostou em Rúben Amorim, a verdade é que o técnico se transformou quase num “presidente”. Pelo que consegue em campo, pelo que retira dos jogadores, pela competitividade que deu à equipa, pelo poder de comunicação para fora e para dentro. Olhando para o “programa” que apresentou há dois anos, cumpriu tudo e ainda melhor do que os mais otimistas poderiam pensar. O triunfo com o Arouca, que quebrou um período com resultados menos conseguidos, mostrou bem o porquê do sucesso, da aposta em Slimani que no ano passado não quis por não ser uma mais valia dentro do modelo da equipa mas que agora entende ser uma peça importante pela forma de jogar que evoluiu e se tornou mais ofensiva, até ao lançamento do jovem médio Dário Essugo, grande figura do primeiro tempo apesar dos 16 anos que só saiu ao intervalo pelo amarelo. Slimani é o presente, Dário Essugo é o futuro, Rúben Amorim tornou-se o passado, o presente e o futuro.

As características do encontro ficaram de forma fácil patentes nos dez minutos iniciais da partida. Ou, pelo menos, três delas: 1) o Arouca tentava jogar com uma linha bem definida e a ter coragem para avançar até dando a profundidade ao ataque leonino, o que fez com que Sarabia fosse apanhado quatro vezes em situação irregular apenas em dez minutos; 2) o Sporting apostava ainda mais nos ataques pelos corredores laterais, a que não era alheia a entrada de Ricardo Esgaio e Rúben Vinagre para as alas e a colocação de Slimani como unidade mais avançado pelo meio a par de Sarabia e Nuno Santos: 3) os leões queriam subir as zonas de pressão, não só pelas características do próprio Slimani mas também para nunca deixar tão exposto Dário Essugo, que era pela primeira vez titular nos seniores tendo ainda idade de jogador… juvenil. No entanto, e em dez minutos, o único lance que deu mesmo golo foi anulado por meros dez centímetros, a distância do adiantamento de Sarabia após receber o passe de Matheus Nunes numa recuperação de Slimani.

Os leões dominavam por completo a todos os níveis mas estavam empatados com o Arouca num parâmetro: os remates. E como 0-0 para cada. Dário Essugo ainda se aventurou em zonas mais adiantadas mas também a sua tentativa acabou por bater num defesa contrário. Ainda assim, a influência do jovem médio começava a crescer (até “tapado” com um cartão amarelo cedo na partida), como se viu numa recuperação de bola de novo à saída do primeiro terço dos visitantes que proporcionou a Nuno Santos a possibilidade de fazer um dos golos da carreira com um chapéu por cima de Victor Braga que saiu a rasar o poste (24′). Esse domínio na posse e em termos territoriais continuava sem reciprocidade no número de golos ou mesmo de oportunidades, o que foi dando também outra confiança ao Arouca para fazer algo mais nas transições.

Na sequência de uma bola longa de Adán, Nuno Santos acreditou que ainda seria possível chegar primeiro do que a defesa contrária, conseguiu mesmo ficar com a posse mas o remate já com pouco ângulo acabaria por ser cortado por Basso quando se encaminhava para a baliza. A dez minutos do intervalo, essa seria a última oportunidade do Sporting na primeira parte antes do único remate do Arouca em 45 minutos que acabou por transformar-se numa chance flagrante de golo: livre lateral na direita do ataque após uma falta de Coates sobre Bukia quando o avançado podia seguir em boas condições, assistência de pé esquerdo de David Simão com o arco bem medido e desvio de cabeça de Tiago Esgaio para grande defesa de Adán (37′).

Rúben Amorim queria decidir rápido e não demorou a mexer na equipa, mesmo sabendo da “injustiça” que era tirar Dário Essugo do jogo por ter já um cartão amarelo. Assim, lançou Ugarte, colocou Porro no lugar de Ricardo Esgaio em busca de uma maior profundidade na direita e abdicou de Rúben Vinagre para apostar em Paulinho, fazendo descer para a ala Nuno Santos. E, em seis minutos, “acabou” mesmo com o jogo: Slimani inaugurou o marcador na sequência de um canto na direita de Pedro Porro, cabeceando na área para o poste contrário sem hipóteses (46′); Paulinho recebeu uma bola recuperada por Ugarte em zona adiantada e acertou com estrondo na trave (50′); e o mesmo Slimani voltou a surgir na zona reservada aos “matadores” para fazer o 2-0, concluindo uma grande jogada na esquerda entre Paulinho e Nuno Santos (52′).

A partir daí, entre um autêntico desfile de substituições, o jogo até foi partindo mais um pouco por vontade do Arouca em esticar-se um pouco mais na frente mas as únicas oportunidades, neste caso já em menor número, pertenceram ao Sporting, que viu Slimani ficar perto do hat-trick após uma assistência de Matheus Nunes (75′) e Matheus Reis arriscar mais um golo num remate cruzado de pé esquerdo. Contudo, a partida estava mais do que resolvida. E o único sinal que perturbou mais Rúben Amorim foi mesmo o desgaste que alguns jogadores foram manifestando, a começar por Sarabia, uma das peças chave da equipa.