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Era só mais um jogo. Um jogo em que o Querétaro podia subir aos oito primeiros classificados. Um jogo em que o Atlas podia consolidar o seu lugar nas posições cimeiras. Mas só mais um jogo, num ambiente sempre eletrizante num Estadio La Corregidora a abarrotar. A meia hora do final, a eficácia ditava leis e os visitantes, mesmo rematando muito menos, ganhavam pela margem mínima depois de marcarem na única tentativa enquadrada com a baliza contrária por Julio Furch. Foi nessa altura que se começaram a perceber clareiras nas bancadas. Confrontos. Violência gratuita. Pessoas que não invadiam o relvado mas que tão somente iam em busca de um lugar seguro. Começava assim a tragédia que envergonha o futebol mexicano.

Do que se percebeu das imagens em direto, citando o El País, começaram a ver-se várias famílias a passarem para outras zonas da bancada, seguranças a tentar levar essas pessoas para os túneis de saída, o guarda-redes da equipa da casa, Washington Aguerre, a pedir calma aos seus adeptos sem ser ouvido. Daí, passou para a autêntica batalha campal: sem que se visse em nenhuma ocasião a polícia que deveria estar presente, as portas de acesso ao relvado abriram e centenas de adeptos entraram no campo com imagens chocantes como a de uma família com duas crianças pequenas a fugir de mãos dadas ou um pai a tentar proteger o seu filho adolescente dos pontapés que levava de várias pessoas. Nas bancadas, entre agressões com armas brancas, facas e autênticos espancamentos ao murro e ao pontapé, eram vários os feridos com sangue e dois adeptos continuavam inertes numa das zonas do fosso do recinto. Tudo em direto num jogo de futebol.

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Ainda não existe propriamente uma explicação para o início de todo o filme de terror, “o maior de sempre no desporto mexicano” como referem os meios locais. Ainda assim, alguns vídeos mostram confrontos numa fase inicial ainda nas bancadas quando adeptos do Querétaro e do Atlas se travavam de razões mas com uma grade de divisão até elementos do conjunto da casa conseguirem furar por outro lado essa divisão e entrarem a agredir ao soco e com cadeiras os rivais. No exterior do estádio, existe um vídeo chocante em que dois adeptos são apanhados por um grupo com dezenas de elementos que lhes tira a roupa e os agride ao murro e ao pontapé até ficarem inconscientes (sem que isso parasse a violência com essas pessoas no chão).

As primeiras informações oficiais, que ainda hoje permanecem como as únicas sobre tudo o que sucedeu este sábado, apontam para 22 feridos, dos quais nove foram transportados ao Hospital General, dois em estado grave. No entanto, são muitos aqueles que estão a colocar em causa este número que foi apresentado pela coordenação da Proteção Civil do estado de Querétaro. Na chegada a Gudalajara, os adeptos do Atlas, muitos deles forçados a tirarem a sua camisola do clube para estarem menos expostos no recinto às agressões aos radicais da casa, diziam haver mortes depois de tudo o que se passou, uma informação que tem circulado mas que continua a ser desmentida pelas autoridades que estão agora a analisar o caso.

No seguimento do filme de terror, os três encontros da Liga MX marcados para este domingo não se vão realizar e o futebol mexicano está suspenso. Já as autoridades abriram um processo de investigação a todos os incidentes “por delitos de homicídio tentado e violência em espectáculos desportivos”.