Antes, uma derrota caseira com o B. Mönchengladbach e um desaire sofrendo quatro golos fora com a equipa do Bochum. Depois, mais um empate como visitado frente ao Bayer Leverkusen. A liderança da Bundesliga (ainda) não está realmente em perigo mas as últimas semanas mostraram sobretudo uma humanização do todo poderoso Bayern, incapaz de contrariar algumas ausências de peso para resolver aquilo que sempre se achou que era uma questão do tempo. No entanto, as questões não se cingiam à principal prova germânica e também na Liga dos Campeões o resultado da primeira mão dos oitavos não abria propriamente uma grande margem para deslizes. Aliás, o golo do empate por Coman aos 90′ contou a história de um jogo diferente.

Salzburgo, Coman c’est possible? (a crónica de um jogo em que o Bayern chegou a ser dominado mas não perdeu)

Como dizia a imprensa alemã, o Bayern ia jogar uma temporada em 90 minutos. Foi por isso que, após a igualdade em território austríaco marcador por “demasiados erros”, o próprio treinador dos bávaros, Julian Nagelsmann, chamou os quatro pesos pesados do balneário, Neuer, Kimmich, Müller e Lewandowski, para abordar com os líderes o que estava a falhar em termos táticos com a equipa que há não muito tempo era vista como um obstáculo incontornável para qualquer adversário. E ainda existem os rumores de que até a relação entre o técnico e os dirigentes já terá vivido melhores dias, seja pela questão da disposição em campo sem resultados práticos, seja pela incapacidade de suprir algumas baixas do último mercado de verão.

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Do outro lado, o Salzburgo tinha aqueles jogos win-win, sem pressão para ir buscar um resultado em que não havia ninguém que acreditasse mas motivado pela resposta que a equipa conseguiu dar na primeira mão, secando em grande parte do tempo aqueles que são os pontos fortes do Bayern. Nem mesmo o recente surto de Covid-19 que afetou o plantel, chegando a unidades fulcrais como Ulmer ou Camara, nem as lesões de jogadores como Okafor, Onguene ou Sesko conseguiam esfriar a confiança de uma equipa que fazia a estreia nos oitavos da Liga dos Campeões contra um adversário que todos temiam mas que conseguiu apenas chegar ao 1-1 no primeiro jogo no final e após mais uns quantos calafrios no seguimento de transições.

O Bayern precisava dos melhores. Dos melhores e do melhor, Robert Lewandowski, que pela primeira vez esta temporada tinha cumprido dois encontros consecutivos sem marcar nem assistir apesar de ir nos 39 golos e três assistências em 34 partidas oficiais realizadas em 2021/22. No entanto, o polaco acabou por ser notícia na antecâmara do jogo por outras razões: já depois de ter recusado enquanto capitão da Polónia entrar em campo contra a Rússia no playoff de acesso ao Mundial, o avançado decidiu rescindir com a marca chinesa Huawei depois de ter sido noticiado que poderia estar a ajudar as forças russas na invasão à Ucrânia, informação confirmada por ambas as partes. Esta noite, foi destaque por outras razões. As do costume: o polaco marcou o hat-trick mais rápido de sempre na Liga dos Campeões aos 23′, passou pela sétima época seguida a fasquia dos 40 golos e fez pela quinta vez três golos num só jogo da Champions.

O encontro começou a um ritmo frenético, com Lewandowski a obrigar Philipp Köhn a uma defesa fantástica após jogada com Sané e Müller logo no primeiro minuto e Capaldo a falhar o impossível dentro da área no minuto seguinte na sequência de uma jogada em que o corredor direito dos alemães ficou a perceber quem ia a quem sem que ninguém fosse a ninguém. O jogo estava bom, estava aberto e estava sobretudo a dar a ideia de que o Salzburgo teria também capacidade de ferir o Bayern até aparecer Lewandowski. E quando apareceu foi logo em dose tripla… e em pouco mais de dez minutos: primeiro sofreu um penálti de Wöber com uma receção fabulosa orientada que o iria deixar sozinho em frente à baliza e converteu o castigo máximo (12′); depois voltou a ser mais rápido do que o central contrário, sofreu falta marcada fora mas passada pelo VAR para penálti e fez o 2-0 (21′); a seguir aproveitou um lance com alguma sorte à mistura, ganhou um ressalto depois da saída de Köhn que bateu no poste e encostou com a barriga para o 3-0 (23′).

Até mesmo depois do 1-0 o Salzburgo ainda criou perigo na área, com um remate de Seiwald que bateu ainda num adversário quando seguia para a baliza (15′). A partir do terceiro golo, deixou de existir. E essa atitude acabou por valer mais um golo sofrido até ao intervalo, com uma perda de bola à saída da área que permitiu a Coman assistir Gnabry para o 4-0 (31′). Até Köhn, num grande momento, podia ter feito melhor…

Perante este cenário, a segunda parte foi quase uma “peladinha” com os germânicos sem perder o foco na baliza contrária e os austríacos a tentarem dentro do possível reduzir os prejuízos acumulados ao longo do primeiro tempo. E teve golos, como não poderia deixar de ser: Müller aumentou para 5-0 num remate à entrada da área (54′); o jovem Maurits Kjaergaard entrou para reduzir na sequência de uma grande transição ofensiva a criar superioridade (70′); Müller bisou após passe de Leroy Sané (83′); e o mesmo Sané fechou as contas com um remate cruzado na área depois de uma assistência de calcanhar de Lewandowski (85′).