“Quem surpreendia os adversários era o Luis Díaz. Não estou a brincar, ele é que continua a surpreender adversários em Inglaterra. Neste momento têm de ser o Pepê, o Galeno ou o Otávio a chegar lá e a fazê-lo de forma diferente porque são jogadores de características diferentes”. A venda do colombiano ao Liverpool não só abalou o futebol do FC Porto como fez com que, nas conferências seguintes, Sérgio Conceição falasse de fasquias de objetivos ligeiramente diferentes. O Campeonato continuava a ser a prioridade, a Taça é sempre um objetivo mas, em relação à Liga Europa, a ambição de chegar à final era abordada de forma mais contida. Ainda hoje, o técnico portista assume-se como candidato mas não favorito por já ter ganho a prova.

FC Porto perde primeira mão com Lyon no Dragão e tem de ir ganhar a França para seguir na Liga Europa

“Acho que isso é história, é do museu. Temos de olhar para o presente. Representamos um clube histórico, que costuma estar na Liga dos Campeões. Essa responsabilidade é normal e natural de quem representa este clube. A responsabilidade é dar o máximo, andar no limite e preparar o melhor possível a equipa. Ganhámos esta prova em 2003 quando o Francisco [Conceição], por exemplo, só tinha um ano! Os jogadores sentem responsabilidade num clube que está habituado a estar na Europa e a ter resultados fantásticos mas não há maior responsabilidade por isso”, comentou. Ainda assim, pelo conteúdo e pela forma, percebe-se tal como já se tinha percebido em Alvalade e em Paços de Ferreira que Sérgio Conceição ganhou maior confiança.

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Sem o tal desequilibrador que não só permitia chegar à baliza de outra forma como muitas vezes conseguia disfarçar um ou outro jogo menos conseguido, o técnico trabalhou a equipa nem curto lapso de tempo para potenciar mais valias individuais num contexto coletivo. Foi assim que trouxe um Taremi que, jogando mais longe da baliza do que era normal, consegue chegar mais perto e com muito maior eficácia. Foi assim que trouxe um Evanilson que, jogando com o iraniano no seu radar, marca como nunca na carreira. Foi assim que trouxe um Vitinha transformado em “médio completo capaz de encher o campo”, como referiu após o último jogo, juntando muitas outras valências sem bola a uma qualidade técnica que fazia a diferença em posse. O atual FC Porto assumiu o ponto alto de uma era de cinco anos em termos de qualidade coletiva.

Foi assim que, apesar da saída de Luis Díaz, a equipa manteve a liderança da Liga com mais seis pontos do que o Sporting mesmo somando dois empates em seis jogos feitos sem o colombiano. Foi assim que, apesar da saída de Luis Díaz, a equipa ganhou vantagem fora na primeira mão da meia-final da Taça rodando meia equipa sem grandes flutuações. E era assim que enfrentava a primeira mão dos oitavos da Liga Europa com um Lyon que apostava tudo na competição internacional perante a época falhada na Ligue 1, em que ocupa nesta fase o nono lugar, e que tem sido uma das desilusões da época em França apesar de ter vários nomes sobretudo do meio-campo para a frente que indiciavam uma melhor caminhada. No entanto, uma questão também estaria em jogo: a parte física. E era aí que incidiam as atenções da preparação.

“Quando se faz sempre três jogos por semana, ao fim de algum tempo torna-se desgastante. Há um trabalho, não só da equipa técnica. Vocês viram que a este treino [de terça-feira] foi com os jogadores menos utilizados e não utilizados no jogo com o Paços. A preparação é mais à base de vídeo, o que não aprecio. Gosto muito do trabalho de campo e nestas situações fica mais difícil. Mas, de qualquer maneira, o conhecimento é grande, os jogadores conhecem-me bem, sabem o que queremos para o jogo. O trabalho de toda a gente é importante, do departamento médico, à equipa técnica onde está inserido o fisiologista. Trabalhamos em conjunto para preparar os jogadores de modo a que possam estar a 100%, pode é haver alguma lesão que não queremos que aconteça”, explicara o técnico, ciente de que seria possível voltar a mexer no onze inicial para manter os índices físicos da equipa e continuar a fugir a possíveis lesões musculares pela densidade de jogo.

À partida, a única lesão, e neste caso traumática, foi mesmo de Pepe, após um choque logo a abrir com Lucas Paquetá. No entanto, a parte física acabou por condicionar e muito aquilo que foi a exibição dos dragões, que tiveram as suas oportunidades ao longo da partida mas que não conseguiram ser tão pressionantes em zonas altas nem tão lestos nas transições para travar um Lyon que esteve muito acima do que tem sido hábito na Ligue 1. E com uma cabeça sem juízo perante pernas que às vezes falhavam, foi Uribe, um gigante na arte de recuperar bolas, que pagou, numa exibição que a par de Vitinha segurou a equipa e merecia mais.

Ficha de jogo

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FC Porto-Lyon, 0-1

Primeira mão dos oitavos da Liga Europa

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: José María Sánchez (Espanha)

FC Porto: Diogo Costa; João Mário (Galeno, 80′), Mbemba, Pepe (Rúben Semedo, 46′), Zaidu; Uribe, Vitinha; Otávio (Francisco Conceição, 88′), Pepê; Taremi (Fábio Vieira, 80′) e Evanilson (Toni Martínez, 72′)

Suplentes não utilizados: Marchesin, Cláudio Ramos, Fábio Cardoso, Grujic, Bruno Costa, Eustáquio e Gonçalo Borges

Treinador: Sérgio Conceição

Lyon: Anthony Lopes; Dubois (Malo Gusto, 82′), Mendes, Lukeba, Emerson; Ekambi, Caqueret, Ndombélé, Faivre (Aouar, 80′); Dembélé e Lucas Paquetá

Suplentes não utilizados: Pollersbeck, Bonnevie, Denayer, Kadewere, Henrique, Keita, Da Silva, Reine-Adélaide e Barcola

Treinador: Peter Bosz

Golo: Lucas Paquetá (59′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Dubois (64′) Otávio (74′) e Francisco Conceição (90+6′)

A partida começou e praticamente parou no minuto seguinte, com Pepe e Lucas Paquetá a terem um choque involuntário de cabeças que deixou o internacional brasileiro a sangrar de forma abundante e o central dos portistas em maior dificuldade pela zona da ferida para ter uma ligadura e não tapar o olho direito. O Lyon adaptou-se melhor a essa paragem, conseguindo ter mais bola e jogando mais no meio-campo contrário com Diogo Costa a mostrar dotes primeiro com os pés, fintando Dembelé perto da baliza perante a pressão do avançado (6′), e depois com as mãos, desviando um cabeceamento do número 9 após livre lateral (10′). O FC Porto ainda não tinha entrado em jogo e tinha dificuldades perante a pressão alta dos franceses mas bastou Vitinha “entrar” em campo para tudo mudar num minuto: arriscou um chapéu de fora da área para grande defesa de Anthony Lopes (12′) e simulou depois para o remate muito perto da trave de Uribe (13′).

O encontro era marcado sobretudo pelo equilíbrio e pela capacidade de adaptação que as duas equipas iam tendo para estar alguns minutos por baixo até se conseguirem encaixar à forma de atacar do adversário. No lado do FC Porto, os problemas passavam pelas transições e pela capacidade que Faivre e Ndombelé tinham de acelerar jogo e ganhar metros. Da parte do Lyon, e depois de Vitinha ter começado a ter espaço para criar desequilíbrios, a projeção dos laterais conseguiu criar mais problemas à defesa dos gauleses. No entanto, e entre esses momentos, as equipas acabavam por falhar nos últimos passes para finalização.

Essa acabou por ser a principal condicionante até ao intervalo, com Anthony Lopes a fazer mais uma grande defesa a remate de Pepê para canto (32′) já depois de ter travado uma tentativa do brasileiro numa das idas até ao flanco esquerdo e Ekambi a atirar às malhas laterais num lance em que se atrapalhou com o próprio Dembelé na hora da finalização e perdeu com isso ângulo para fazer o remate nas melhores condições (38′). O nulo chegaria de forma quase inevitável até ao intervalo, com o FC Porto a ter pela frente um Lyon que nada tinha a ver com aquele que anda a passear em forma de caricatura pela Ligue 1 e a ter de enfrentar uma outra contrariedade, com Pepe a sair de novo em dificuldades ainda pelo lance logo a abrir o jogo.

Rúben Semedo saltou para o jogo logo ao intervalo, tendo logo de início um par de intervenções positivas entre uma boa entrada do FC Porto com um remate perigoso de Taremi ao lado após passe de Evanilson que deixou o aviso à baliza de Anthony Lopes (47′). No entanto, e com o passar dos minutos, a nova colocação de Lucas Paquetá numa posição mais central do terreno e o maior envolvimento de Ekambi com o jogo da equipa a partir da esquerda trouxeram mais problemas aos dragões, que viram Dembelé desviar depois de um cruzamento ao lado (50′), atirar também ao lado de fora da área (54′) e assistir (e de calcanhar) Lucas Paquetá para um remate na passada de pé esquerdo que fez o 1-0, num lance em que Mbemba parecia ter a jogada controlada numa primeira instância com Ekambi antes de ver o camaronês ganhar a frente (59′).

A missão dos azuis e brancos ficava mais dificultada e nada parecia mesmo ajudar o conjunto português na obtenção do empate, a começar por uma grande penalidade assinalada por mão de Lucas Paquetá na área que o VAR e mais tarde o árbitro acabaram por reverter (63′). E ainda houve mais duas quedas também em zona de grande penalidade, de Taremi e Toni Martínez, que motivaram protestos mas sem falta assinalada. Só mesmo Vitinha conseguia agarrar um pouco mais no jogo para organizar e dar clarividência à forma como a equipa procurava o empate, arriscando também a meia distância para defesa de Anthony Lopes (76′), até as últimas substituições de Sérgio Conceição mexeram com a equipa tendo Fábio Vieira a rematar muito perto da trave (83′) e Galeno a não conseguir desviar da melhor forma um cruzamento de Toni Martínez (85′). O FC Porto tentou até ao último minuto, conseguindo ainda marcar aos 90+5′ por Mbemba num golo anulado por posição irregular após passe de Toni Martínez, mas a derrota já não seria evitada.