O número de pessoas deslocadas no Burkina Faso devido à insegurança jihadista aumentou para mais de 1,7 milhões, dos quais 160.000 em janeiro, revelaram esta quinta-feira organizações não-governamentais.

“O golpe militar no Burkina Faso, no final de janeiro, fez grandes manchetes. No entanto, o recente registo de mais de 160.000 burquinabês deslocados nesse mês, um número quase recorde, não fez manchetes”, afirmaram o Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC), Action Against Hunger, Médicos do Mundo e Oxfam, através de uma declaração conjunta.

Segundo estas organizações, este é o segundo maior aumento desde janeiro de 2019, quando se registava um total de 87.000 pessoas deslocadas internamente no Burkina Faso devido à violência rebelde, que começou em abril de 2015.

Desde janeiro de 2019, a população deslocada no Burkina Faso aumentou 2.000%. Do total de deslocados, mais de dois em cada três são crianças.

“A circulação de grandes números em reuniões de alto nível não significa nada para as pessoas que não têm habitação decente, não têm água limpa e não proporcionar aos seus filhos três refeições por dia”, disse Hassane Hamadou, diretor nacional do NRC no Burkina Faso, apelando aos países doadores para que cumpram as promessas feitas na Conferência Central do Sahel, em outubro de 2020.

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Os signatários do comunicado expressaram ainda os seus receios de que a crise na Ucrânia possa este ano desviar fundos e a atenção da região do Sahel.

“Alguns doadores já indicaram que irão reduzir o nosso financiamento em 70% para apoiar operações na Ucrânia. Estamos muito preocupados que isto se torne uma tendência, tornando o acesso aos cuidados de saúde e outros serviços básicos ainda mais escasso para as pessoas deslocadas no Burkina Faso”, disse Safia Torche, diretora executiva da Médecins du Monde no Burkina Faso.

O Burkina Faso tem sofrido ataques jihadistas desde 2015, atribuídos a grupos ligados à Al-Qaida e ao Estado Islâmico.

A região mais afetada pela insegurança é o Sahel (norte), que partilha uma fronteira com o Mali e o Níger, embora o jihadismo também se tenha alargado a outras áreas vizinhas e, desde 2018, ao leste do país.

Em novembro passado, um ataque contra um posto da guarda causou 53 mortes (49 polícias militares e quatro civis), gerando um grande descontentamento social, que levou a fortes protestos exigindo a demissão do Presidente do Burkina Faso, Roch Kaboré.

Meses depois, a 24 de janeiro, os militares tomaram o poder num golpe de Estado — o quarto na região da África Ocidental desde agosto de 2020 – e depuseram o presidente.