O relógio marcava 77.16 e a realização do jogo entre Real Madrid e PSG ainda passava aquele oráculo dos sete golos em sete jogos que Karim Benzema levava na presente edição da Champions. Mas o avançado queria mais e quando a bola foi de novo ao meio-campo com a eliminatória empatada quase que foi empurrado pelo ambiente frenético que tinha tomado conta de um Santiago Bernabéu que voltava a ter 60.000 espectadores nas bancadas dois anos depois. 20 segundos depois, estavam todos de novo abraçados. Todos menos um, David Alaba, austríaco que chegou esta temporada do Bayern e que já encarna como poucos o espírito madridista, extravasando a completa euforia agarrando numa cadeira de um steward de campo. Estava feita uma das reviravoltas mais épicas dos últimos tempos na Liga milionária e com um hat-trick do número 9.

Benzema faz um hat-trick, consegue remontada épica e Mbappé aprende a última Real lição ao serviço do PSG

A jogada que resultou no 3-1 da reviravolta acaba por ser o exemplo paradigmático de como o PSG continua a ruir ao mínimo abanão (que neste caso foi vendaval). O todo poderoso clube, a equipa de todas as estrelas, o conjunto verdadeiramente galáctico. Afinal, com uma vantagem de dois golos na eliminatória e com dois outros golos anulados por fora de jogo – todos de Kylian Mbappé, a valer ou não –, bastou uma reposição de bola a meio-campo para Rodrygo aparecer onde não podia, Marquinhos cortar para onde não devia e Karim Benzema atirar para onde nenhum francês queria. E as ondas de choque já se fazem sentir após uma derrota que a imprensa gaulesa, entre muitas críticas a todos menos a Mbappé, considera ter sido ainda pior do que a goleada por 6-1 em Camp Nou frente ao Barcelona que comemora esta semana cinco anos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Porquê? Porque o Barcelona era melhor do que este Real Madrid. Porque o PSG tem mais argumentos do que na altura. Porque ao intervalo a eliminatória estava mais do que controlada. Porque só mesmo o erro crasso de Donnarumma poderia ter dado vida aos espanhóis com o golo do empate. E foi a partir desse lance que nem o árbitro, nem o VAR sancionaram como falta que todos começaram a perder a cabeça.

O pior foi mesmo Nasser Al-Khelaïfi, presidente do PSG. Numa semana em que viu a justiça suíça pedir uma pena de prisão de 28 meses por alegado tráfico de influências na venda dos direitos televisivos dos Mundiais de 2026 e 2030 à BeIN, o líder já tinha começado a disparar alto e bom som na tribuna contra aquela que considerou ser uma decisão errada do neerlandês Danny Makkelie. No final do jogo, toldado pela frustração de mais uma desilusão europeias, soltou ainda mais a sua fúria: desceu à zona dos balneários aos gritos, quis entrar na cabine do árbitro, enganou-se na primeira porta e foi dar com a sala da delegada de campo do Real Madrid, Megía Dávila. Mas não ficou por aí, numa cena que já tinha ensaiado noutras derrotas.

Dono do PSG suspeito de corrupção (e não, não tem nada a ver com a contratação de Neymar)

“Depois do jogo, o presidente e o diretor desportivo do PSG mostraram um comportamento agressivo e tentaram entrar no balneário dos árbitros. Bloquearam a porta e o presidente, de forma deliberada, acertou numa bandeira de um dos árbitros assistentes, partindo-a”, escreveu Danny Makkelie no relatório de jogo. E não foi só isso que aconteceu: quando um funcionário dos merengues que assistia a todo o filme sacou do telefone para gravar tudo o que se estava a passar, Nasser Al-Khelaïfi gritou-lhe “Vou matar-te” e teve de ser agarrado pelos seguranças enquanto Leonardo, também alterado no meio daquela confusão, pediu com tom ameaçador para que aquele vídeo que tinha sido feito fosse de imediato apagado do telefone.

O impacto da derrota também chegou, e muito, ao balneário do PSG. E também aí tudo poderia ter escalado para agressões físicas, como contam os meios franceses: Neymar recriminou o erro de Donnarumma na jogada que originou o empate do Real quando a equipa tinha o jogo controlado, o guarda-redes recordou a perda de bola do brasileiro que originou o segundo golo de Benzema e tiveram de ser os companheiros a separar ambos quando a escalada da discussão prometia chegar à parte física. A dupla, a par de Marquinhos e até do próprio Messi, recebeu o maior número de críticas da imprensa pela derrota.

Ainda assim, e num dado que parece consumado, Mauricio Pochettino é um dos principais visados por mais uma época de desilusão europeia e está de saída do Parques dos Príncipes (sendo que, até esta quarta-feira, a imprensa inglesa dizia que era o favorito para assumir o comando do Manchester United). No final da partida, o argentino criticou também de forma dura a arbitragem e o VAR pelo lance do golo do empate mas nem por isso ficou ilibado das culpas pela reação do Real Madrid, até pela forma demorada como reagiu com a entrada em campo de Ángel Di María quando os espanhóis já tinham a eliminatória do seu lado. Leonardo, mais uma vez visado pela gestão desportiva dos parisienses, também poderá abandonar Paris após mais uma temporada em que a equipa deverá “apenas” ganhar a Ligue 1 perante todo o investimento realizado.