O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, alerta para o desafio de um crescimento da economia muito baixo num cenário de inflação elevada, mas diz que não assistiremos a estagflação, no conceito estrito da palavra.

“Os cenários de estagflação que nos dicionários de economia têm três componentes: crescimento nulo ou mesmo negativo, inflação elevada e em aceleração e um mercado de trabalho com desemprego elevado. Nós não temos esta terceira condição na Europa”, disse esta sexta-feira o responsável do BdP durante uma intervenção na conferência “Portugal: objetivo crescimento”, organizada pela Ordem dos Economistas, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Mário Centeno disse não prever que um mercado de trabalho com desemprego elevado “se venha a concretizar”. “Portanto, puristas das definições podem ficar confortados de que os três pilares da definição de estagflação, na minha visão podem não ser cumpridos. Mas a verdade é que enfrentamos momentos de desafio com crescimento muito baixo e inflação elevada”, acrescentou.

Em entrevista à Bloomberg, em 28 de fevereiro, o governador do BdP alertou que um “cenário próximo da estagflação não está fora das possibilidades que podemos enfrentar”, devido ao conflito na Ucrânia.

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O Banco Central Europeu (BCE) baixou esta quinta-feira a sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da zona euro em 2022 e subiu acentuadamente a de inflação devido ao impacto da guerra na Ucrânia.

A instituição prevê uma expansão do PIB de 3,7% este ano, quando previa 4,2% nas últimas projeções, e quanto à inflação aponta agora para 5,1% quando há três meses antecipava 3,2%. Já em 2023, o crescimento deve ser de 2,8% (2,9% em dezembro) e em 2024 será de 1,6% (inalterado).

Quanto à inflação deve atingir 2,1% em 2023 (1,8% em dezembro) e 1,9% em 2024 (1,8% na anterior previsão).

A guerra “terá um impacto importante na atividade económica e na inflação, pelo aumento dos preços da energia e das matérias-primas e também pela perturbação do comércio internacional e da confiança”, declarou a presidente do BCE, Christine Lagarde, em conferência de imprensa.