Era uma espécie de morcego considerada “perdida”, já que não era vista há 40 anos. Mas o morcego-ferradura de Hill (de nome científico Rhinolophus hilli), afinal, está vivo no Ruanda, anunciou esta terça-feira a Bat Conservation International (BCI), em comunicado.

Há um grupo no Texas que anda à procura de espécies perdidas. Uma delas desapareceu em Portugal em 1931: a aranha alçapão de Fagilde

É espantoso pensar que nós somos as primeiras pessoas a ver este morcego em tanto tempo”, sublinhou o diretor da BCI, Jon Flanders, no mesmo comunicado. Em 2021, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla inglesa) classificou esta espécie como severamente ameaçada.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A organização sem fins lucrativos com sede no Texas iniciou a investigação em 2013, juntamente com o Conselho para o Desenvolvimento do Ruanda e a Associação de Conservação para a Vida Selvagem do país. Começaram o projeto sem grandes expectativas, pois temiam que o morcego já estivesse extinto, revelou Flanders.

O animal foi capturado em janeiro de 2019 após uma expedição de dez dias, em que os conservacionistas exploraram cavernas do Parque Nacional de Nyungwe, no Ruanda. “Soubemos imediatamente que o morcego que apanhamos era raro e marcante”, admitiu o cientista Winifred Frick. “As feições faciais eram exageradas ao ponto de serem cómicas”, brincou ainda, referindo-se às grandes orelhas, ao rosto amassado e à caraterística que lhe dá nome: o nariz em forma de ferradura.

O morcego foi amplamente examinado antes de ser libertado novamente na natureza. Puderam ainda comparar o espécime recém-descoberto com registos de vários arquivos de museus na Europa com o objetivo de verificar a espécie, processo que durou três anos.

Noutro procedimento, a equipa gravou os sinais de ecolocalização — as ondas de alta frequência de som que estes animais emitem para se orientarem e caçar presas — do morcego-ferradura de Hill. Ao longo de nove meses, estudos de áudio foram realizados em 23 pontos do parque nacional, revelando a presença deste exemplar em oito locais confinados a uma pequena área.

Os investigadores acreditam que a rara descoberta marca o início de uma nova corrida para salvar a espécie anteriormente dada como perdida. “Agora o nosso real trabalho é compreender como protegê-la no futuro”, mencionou Flanders. A conservação passa pela “partilha aberta de dados” com todos aqueles que trabalhem “para garantir que estas espécies tenham florestas protegidas para chamar de casa”, complementou Frick.

Do minúsculo “morcego abelha” de duas gramas à gigantesca “raposa voadora” — com uma envergadura de 1.5 metros — os morcegos representam um quinto de todos os mamíferos terrestres. Cerca de 40% das 1.321 espécies avaliadas na lista vermelha da IUCN estão agora nomeadas como em vias de extinção. As ações humanas, tais como a desflorestação, estão entre as principais causas.