A Evergrande foi notícia durante todo o ano de 2021 pelos piores motivos. Esteve na corda bamba da insolvência, envolvida por uma dívida de cerca de 270 mil milhões de euros. Em dezembro falhou mesmo o pagamento dos juros de uma dívida em dólares, o que levou a Fitch a cortar o rating da imobiliária chinesa para nível de incumprimento.

Mas, ao contrário do que aconteceu a meio do ano — em que a perspetiva de chegar a esse evento levou a um tombo nas bolsas mundiais –, quando se deu efetivamente o incumprimento as bolsas não reagiram como se esperava. Havia já uma expectativa de reestruturação ordenada da dívida, e a mão do governo chinês amparou a empresa.

Evergrande ainda treme. Pede adiamento de pagamento de juros

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Um incumprimento que já levou os principais credores a ameaçar com processos em tribunal. Isto depois da imobiliária chinesa ter criado um comité de gestão de risco, com entidades públicas, com o objetivo de negociar com os credores e, conforme foi noticiado, proteger os interesses das partes envolvidas.

Segundo a companhia, mais de 90% dos seus projetos retomaram no início de janeiro a construção, depois de alguns terem sido suspensos pelas dificuldades de pagamento aos fornecedores e empreiteiros. Também avançou com a venda de ativos. Ainda no final de fevereiro vendeu a participação em quatro projetos por cerca de 300 milhões de euros a duas empresas públicas chinesas, tendo ficado com o direito de recompra, mas livrando-se da dívida associada aos projetos e colocando a construção em outras mãos.

Mas enquanto esta reestruturação se passa na área de imobiliário, a empresa tem outra unidade em foco — a dos carros elétricos. E esta segunda-feira garantiu a aprovação por parte das autoridades públicas para começar a vender os seus veículos sob a marca Hengchi.

Segundo a agência Nikkei Asia, a Evergrande já terá garantido a autorização por parte do Ministério da Indústria e das Tecnologias de Informação para a venda dos seus SUV (sport utility vehicle, ou um veículo utilitário desportivo), que já estão em produção. A comercialização deve, assim, começar em breve.

Foi em 2018 que a empresa anunciou a entrada neste novo negócio, tendo no ano seguinte comunicado que iria investir em três anos cerca de 7 mil milhões de dólares na unidade de veículos elétricos. A comercialização significa que a empresa vai começar a tentar recuperar o investimento feito, mas entra num mercado já com vários concorrentes a operar, como a Byd, a Tesla e outras empresas chinesas.

O modelo Hengchi 5 SUV saiu da linha de produção, pela primeira vez, no passado mês de janeiro. Está a ser produzido na unidade de Tianjin. Notícias de jornais da especialidade apontavam para um preço de venda de cerca de 27.400 euros.

O CEO Evergrande, Hui Ka Yan, anunciou em outubro que os veículos elétricos deverão ser o principal negócio da empresa em 10 anos, destronando o imobiliário. Este mesmo responsável vê o carro ser aprovado depois de, conforme noticiou a Bloomberg, lhe ter sido negado o acesso a uma reunião política no início de março, o que a agência considerou ser o último sinal de que está a perder poder dentro do Partido Comunista Chinês.

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