A associação da hotelaria afirma que há “alguma recuperação” no número de trabalhadores do setor, fruto também de um Acordo Coletivo de Trabalho melhor, e que a associação desenvolve contactos com várias entidades para agilizar oportunidades aos refugiados da Ucrânia.

“Tem havido alguma recuperação de trabalhadores. Tem havido trabalhadores que estão a voltar à atividade, é um facto. Estavam no desemprego e começaram, portanto, a retomar a sua atividade e há muitos que tinham partido e que voltaram, há outros que foram para outras atividades e não voltam. E, portanto, há, de facto, uma recuperação do número de trabalhadores “, afirmou em entrevista à Lusa, o presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Raul Martins.

Segundo o mesmo responsável, “por outro lado, essa recuperação faz-se também porque o Contrato Coletivo de Trabalho que a AHP negociou tem valores que são substancialmente mais elevados do que aqueles que existiam”, acrescentou.

Raul Martins diz que a tabela desse contrato coletivo “cresceu mais do que a inflação, mas bastante mais do que a inflação principalmente para os ordenados mais baixo da tabela”, já que existem “categorias que chegaram a aumentar 20% do seu valor de há dois anos para agora”, o que vai permitir também — acrescenta — “ter o valor de remuneração que se torna mais atrativo para o setor”.

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Com isso, admite, “há pessoas que se tinham dúvidas voltaram a acreditar que vale a pena estar no setor do turismo”.

Em novembro de 2021, a associação apontava cerca de 15.000 trabalhadores em falta nos hotéis.

Para colmatar este que tem sido mais um constrangimento a todos os segmentos do setor, e tal como já tinha sido anunciado, “a associação tem feito as pontes necessárias para se encaminhar já a mão de obra do estrangeiro, dos CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], nomeadamente de Cabo Verde, e estão-se a agilizar essas situações, desde Marrocos à índia e agora também as Filipinas entraram nesse sistema”, explicou Raul Martins.

Procedimentos, “por forma a que quando houver o aumento de procura, que agora começa em março e abril com a Páscoa, possamos de alguma forma recuperar essa mão de obra” ainda em falta, acrescentou.

Questionado se a associação tem também tentado contactos para o cruzamento de interesses com os trabalhadores da Ucrânia que estão a chegar a Portugal, o presidente da AHP diz que sim, que estão “aproximar-se também das disponibilidades de trabalhar na área do turismo, nomeadamente hotelaria”.

A AHP está em contactos com a Embaixada da Ucrânia, IEFP, Alto Comissariado para as Migrações e diversas associações de apoio para “agilizar essa situação, informando quais são os hotéis e quais o número de disponibilidades que há para encaminhar as pessoas que estejam interessadas em trabalhar no turismo”.

“Os refugiados vêm para trabalhar, eles vêm, mas trabalhavam na Ucrânia e, portanto, são pessoas que estão habituadas a trabalhar e querem manter a sua atividade e vêm à procura de emprego. De uma forma geral, daquilo que historicamente já acontece em Portugal, os ucranianos têm qualidade de trabalho”, disse ainda.

Noutra área, mas também apontado como um constrangimento ao crescimento do turismo em Portugal, está a decisão sobre o novo aeroporto em Lisboa. Sobre este, e na melhor das hipóteses, a AHP já só o espera daqui “a quatro anos”.

“É o mínimo que podemos ter”, afirma Raul Martins.

“Temos à nossa frente cerca de um ano para ter o estudo de impacto ambiental geral e, portanto, só depois disso é que teremos uma definição do que poderá ser o novo aeroporto, porque dúvidas não haverá de que tem que haver um novo aeroporto. O PSD também concordou que com esse estudo de impacto ambiental alteraria, então, a lei para que as câmaras municipais não se tivessem que pronunciar sobre decisões de interesse nacional como um aeroporto central do país e, portanto, pensamos que este Governo [que ainda tomará posse] tem todas as condições. O facto de ter maioria absoluta e de haver esse acordo já com o PSD, tem todas as condições para iniciar a construção do aeroporto”, considerou.

Atualmente, em cima da mesa estão três hipóteses: aeroporto Humberto Delgado (principal), com o aeroporto do Montijo (complementar); aeroporto do Montijo (principal), com o aeroporto Humberto Delgado (complementar) e uma infraestrutura localizada no Campo de Tiro de Alcochete.

Em 2019, o número de passageiros no aeroporto de Lisboa atingiu os 31 milhões de passageiros, segundo a ANA, número que — lembrou em dezembro, o administrador da gestora aeroportuária Francisco Pita — se aproxima muito da capacidade de saturação desta infraestrutura.

Sobre a solução, Raul Martins defende que a Portela “para as deslocações ponto a ponto será aquela que deve ser utilizada e o hub para as viagens intercontinentais deverá ir para o Montijo”.

“Na melhor das soluções só temos aeroporto daqui a quatro anos”, reforçou Raul Martins, considerando um ano para o estudo, e depois decisões e adjudicações e dois anos para o fazer.

Em 2 de dezembro, Francisco Pita reafirmou que a empresa está preparada para avançar no Montijo, que levará quatro anos a construir.

Já sobre a recente reestruturação da TAP, Raul Martins diz que a companhia “irá ter a dimensão que está adequada às rotas principais que tem, que vão ao Brasil, aos Estados Unidos e que vão para África — a Ásia não é uma zona de expansão natural da TAP –, além da Europa e, portanto, está-se a redimensionar ou [passa] a estar dimensionada por forma a continuar a ser eficaz, mas ser economicamente viável”.

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