Um tambor rúnico do povo Sámi vai, ao fim de três séculos, regressar à Noruega.

O tambor foi confiscado ao noaidi — ou xamã do povo Sámi — Anders Poulsson a 7 de dezembro de 1691. O artefacto era utilizado para entrar num estado de trance que proporcionava a Anders, ou Poala-Ánde, o nome do xamã na língua Sámi, a capacidade de se transportar para outro plano e ainda de falar com os espíritos.

Julgado por bruxaria, Poulsson afirmou na altura perante o tribunal, de acordo com registos citados pelo The Guardian, que a sua mãe o teria ensinado na arte de utilizar o tambor rúnico, uma vez que Poulsson “queria ajudar as pessoas em apuros, e com a sua arte queria fazer o bem, e a sua mãe disse-lhe que o ensinaria nessa arte“.

Os Sámi habitam a região de Sapmi, que compreende o território norte da Noruega, da Finlândia, da Suécia e a península russa de Kola. Na época da apreensão do tambor de Anders Poulsson, a Noruega era governada pela Dinamarca, pelo que o artefacto rúnico passou para a coleção real dinamarquesa e, mais tarde, para o Museu Nacional da Dinamarca.

A luta pelo tambor histórico durou cerca de 40 anos, segundo a diretora do Museu Sámi de Karasjok — vila localizada no norte da Noruega — Jelena Porsanger.

É um objeto precioso para nós que é um símbolo da nossa história, valores e cultura, e ao mesmo tempo símbolo da colonização e de relações de poder desiguais”, explicou a diretora do museu.

O tambor, embora estivesse na posse do museu desde 1979, estava em Karasjok na condição de empréstimo, e é o único na coleção. Atualmente em trabalhos de conservação, o artefacto será a peça central numa exibição com data prevista para 12 de abril.

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Para nós estes objetos não têm que ver com coleções, ou com a representação de um período histórico. Não são objetos materiais. Pensamos neles como humanos, como pessoas.”

A maior coleção de tambores Sámi — mais de 30 exemplares — encontra-se no Museu Nordiska, em Estocolmo, além de existirem outros artefactos do género em Berlim, Leipzig, Hamburgo e Roma, assim como no Museu Britânico e no Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade de Cambridge.

Segundo Jelena Porsanger, o atual museu de Karasjok é insuficiente para acolher uma coleção de vários artefactos frágeis como o tambor de Anders Poulsson, uma vez que, além de pequeno, não oferece o controlo atmosférico necessário. “Estamos a planear um novo museu. Talvez consigamos concretizar esse sonho.”