A Fundação Portuguesa do Pulmão alertou esta quarta-feira para o atraso de um ano no exame que diagnostica a Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), uma doença que pode atingir até 80% da população acima dos 65 anos.

“Não há razão nenhuma para este atraso, a não ser, por um lado, a grande prevalência desta doença e, por outro, as complicações que é conseguir consultas e pedir exames“, disse à Lusa o presidente da fundação, José Alves, sublinhando a incapacidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para “responder a coisas que são massivas”.

O especialista acrescentou ainda: “Nem o exame pode ser pedido pelo médico de família, nem teoricamente deve ser pedido por um pneumologista. Deve ser pedido por um pneumologista com a competência do sono e as consultas não estão atrasadas um ano, estão atrasadas muito mais”.

Lembra que os distúrbios respiratórios do sono aumentam com a idade e fazem subir o risco de hipertensão arterial, enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral e arritmias cardíacas. A SAOS implica ainda um grande risco de acidentes nas pessoas que ficam com sonolência durante o dia e adormecem ao volante.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No âmbito do Dia Mundial do Sono, que se assinala anualmente na sexta-feira anterior ao equinócio da primavera, a Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP) vai oferecer o exame de diagnóstico (estudo do sono), feito no domicílio, aos primeiros 100 doentes que procurarem a sua plataforma para uma consulta do sono.

Além do atraso no diagnóstico provocado pela dificuldade em ter o exame (polissonografia) prescrito, o especialista aponta a falta de resposta no terreno para a realização do estudo do sono, um exame que pode ser feito na casa do doente.

“Não é complicado, mas é preciso ir ao hospital buscar as coisas, ir a casa do doente e montá-las no corpo do doente. Não precisa de preparação e o doente está a dormir”, explicou.

Além de oferecer o exame aos primeiros 100 doentes, a fundação vai ainda disponibilizar um link que permite responder a um questionário e fazer um primeiro rastreio, que, entre outras matérias, tem as características antropomórficas do doente.

“Estas pessoas que têm a síndrome de apneia mais grave são obesas, pequenas e têm o pescoço curto”, explica, acrescentando que uma das condições essenciais para tratar a doença é perder peso.

De acordo com a fundação, a SAOS é muito frequente, está subdiagnosticada e pode afetar 25% das mulheres e 50% dos homens.

Deve suspeitar-se da doença se houver queixas de ressonar, pausas respiratórias durante a noite descritas pelo/a parceiro/a, engasgamento durante o sono, sonolência diurna, dores de cabeça de predomínio matinal e sono não reparador (sensação de acordar mais cansado).

“Quando as pessoas têm essas apneias acordam durante a noite, não se apercebem disso, e não fazem os ciclos de sono de que precisam. Por isso não descansam”, explicou o pneumologista, insistindo: “é particularmente perigoso em pessoas que têm outras doenças, nomeadamente hipertensão e doenças cardiovasculares, e para quem tem de conduzir, porque adormece ao volante”.

Depois de diagnosticada, a doença tem tratamento, que depende da gravidade.

“O tratamento é variável, mas o fundamental é perder peso. É preciso dormir com um aparelho, que tem uma máscara que faz pressão positiva e impede o colapso nas vias aéreas. Há outras alternativas, mas tudo depende da gravidade do caso”, explicou o responsável, dando o exemplo de alguns doentes que acompanha e que “paravam 100 vezes de respirar durante a noite”.

O presidente da FPP lembra ainda que a SAOS está muito relacionada com o facto de a pessoa ressonar e com a ingestão de álcool e benzodiazepinas (calmantes), que diminuem a reatividade do centro respiratório.