A visita do FC Porto ao Lyon colocava os dragões numa situação a que não estão propriamente habituados no passado recente: a desvantagem. Depois da derrota na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, no Dragão, a equipa de Sérgio Conceição partia de trás na eliminatória, algo que não costuma fazer. Depois da derrota na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, no Dragão, a equipa de Sérgio Conceição teria de dar a volta ao texto, algo que não é muito comum. E depois da derrota na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, no Dragão, a equipa de Sérgio estava pressionada. O que é muito raro.

Ou seja, num único jogo, ao longo de 90 minutos, o FC Porto teria de se superar para fazer uma série de coisas que quase nunca faz e seguir em frente na Liga Europa. E, para Sérgio Conceição, a receita era simples: os dragões teriam simplesmente de fazer melhor do que fizeram na primeira mão. “Temos de ter um FC Porto mais competente do que aquele que tivemos no Dragão, não tenho dúvidas. Mas claro que também houve situações positivas no jogo em casa. É pegar no que fizemos bem — normalmente somos fortes naquilo em que somos bons — e melhorar outras situações que eu acho essenciais. Depois, naturalmente, as coisas vão acontecer”, explicou o treinador na antevisão da partida.

Ficha de jogo

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Lyon-FC Porto, 1-1 (2-1 no conjunto das duas mãos)

Oitavos de final da Liga Europa

Groupama Stadium, em Lyon (França)

Árbitro: Ovidiu Hategan (Roménia)

Lyon: Anthony Lopes, Léo Dubois, Thiago Mendes, Castello Lukeba, Emerson, Ndombélé, Caqueret, Toko Ekambi, Lucas Paquetá, Romain Faivre (Aouar, 65′), Moussa Dembélé (Kadewere, 65′)

Suplentes não utilizados: Pollersbeck, Bonevie, Jason Denayer, Aouar, Henrique, Malo Gusto, Habib Keita, Damien da Silva, Jeff Reine-Adélaide, Bradley Barcola

Treinador: Peter Bosz

FC Porto: Diogo Costa, Bruno Costa (João Mário, 56′), Mbemba, Pepe, Zaidu, Grujic (Vitinha, 79′), Stephen Eustáquio (Uribe, 56′), Pepê, Fábio Vieira, Galeno (Evanilson, 74′), Toni Martínez (Taremi, 74′)

Suplentes não utilizados: Marchesín, Cláudio Ramos, Fábio Cardoso, Francisco Conceição, Wendell, Rúben Semedo, Gonçalo Borges

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Dembélé (13′), Pepê (27′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Stephen Eustáquio (18′), a Dubois (60′), a Evanilson (81′), a Caqueret (83′)

Ainda assim, e mesmo com a vontade de dar a volta à eliminatória e seguir em frente numa competição em que o FC Porto tem e pode ter expectativas avolumadas, Conceição não escondia que a prioridade estava bem longe de Lyon — e prendia-se com o Campeonato. “Este ciclo de jogos tem sido infernal. Não olhamos para a Liga Europa a pensar em dois jogos mas temos de olhar para o calendário. Antes da paragem das seleções, temos um dérbi contra o Boavista no Campeonato, que é o principal objetivo da época. São três pontos muito importantes. Tentei olhar para os jogadores e perceber se os que têm mais minutos dão mais coisas do que os que têm outra frescura física. E emocional também. Vou olhar para isso e perceber que onze inicial dará mais garantias para dar a volta ao resultado”, atirou, admitindo desde logo alterações e uma gestão clara do plantel numa fase cada vez mais decisiva da Primeira Liga.

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Ora, com base nisso mesmo, Sérgio Conceição não fugiu ao que ele próprio havia dito e lançou Bruno Costa, Stephen Eustáquio, Grujic, Fábio Vieira, Galeno e Toni Martínez no onze inicial, deixando João Mário, Uribe, Vitinha, Taremi e Evanilson no banco, sendo que Otávio estava castigado e era baixa. Pepe regressava à titularidade e, do outro lado, Peter Bosz repetia o onze que jogou no Dragão num Lyon que no fim de semana foi goleado pelo Rennes na Ligue 1.

O Lyon começou claramente melhor, assumindo a posse de bola e o controlo do jogo e construindo desde o meio-campo, procurando desequilibrar essencialmente a partir das subidas dos laterais pelos corredores. Toni Martínez ainda teve uma aproximação perigosa à baliza de Anthony Lopes (9′), num lance em que fugiu à defesa francesa, mas o Lyon não demorou sequer um quarto de hora a abrir o marcador. Numa jogada em que a defensiva do FC Porto congelou e Zaidu não acompanhou os companheiros na movimentação para provocar o fora de jogo, Dubois descobriu Dembélé nas costas dos centrais e o avançado, à saída de Diogo Costa, atirou já em esforço para marcar o primeiro golo do jogo (13′).

A equipa de Sérgio Conceição reagiu pouco depois com um remate fraco de Pepê que Anthony Lopes encaixou (16′) mas a verdade é que o FC Porto demorou até conseguir propriamente discutir a partida. O Lyon dominou durante largos minutos, com posse de bola e presença no último terço adversário, e os dragões limitavam-se a controlar as movimentações adversárias sem conseguir soltar as transições rápidas. Na esquerda, Galeno não era capaz de desequilibrar; na direita, Pepê ia tentando ter influência e alcançava-o principalmente quando trocava de posição com Fábio Vieira e explorava a faixa central.

Dembélé ficou muito perto de aumentar a vantagem, com um cabeceamento por cima na sequência de um cruzamento de Dubois (22′), mas o FC Porto acabou por conseguir travar o ímpeto do Lyon com o empate. Na sequência de uma transição rápida conduzida por Pepê, Fábio Vieira cruzou para devolver ao avançado e o brasileiro atirou de primeira, à meia volta e na zona da marca da grande penalidade, para bater Anthony Lopes (27′). Pepê, que estava a ser o melhor elemento dos dragões a par de Stephen Eustáquio, conquistava a recompensa pela exibição através do golo e relançava por completo a eliminatória.

Até ao intervalo, apesar de não ter voltado a criar oportunidades à exceção de uma nova aproximação que Toni Martínez não finalizou (34′), o FC Porto assumiu as despesas do jogo e inverteu aquele que tinha sido o sentido da partida até então, mostrando-se assertivo, a reagir à perda e à procura do segundo golo. No fim da primeira parte, porém, o Lyon estava ainda virtualmente apurado para os quartos de final da Liga Europa.

O FC Porto entrou claramente melhor na segunda parte, assumindo o controlo do jogo com que tinha saído do primeiro tempo e empurrando o Lyon para o próprio último terço, exercendo uma pressão alta muito eficaz que asfixiava por completo as tentativas de saída dos franceses. Sérgio Conceição foi forçado a fazer a primeira substituição ainda antes da hora de jogo, quando Bruno Costa sofreu problemas musculares e teve de ser rendido por João Mário, e aproveitou para também trocar Eustáquio por Uribe, fortalecendo o meio-campo.

Já depois de Diogo Costa evitar o golo do Lyon, com uma enorme mancha a um remate de Dembélé (63′), Peter Bosz respondeu às alterações de Sérgio Conceição e tirou o avançado francês e Faivre para lançar Aouar e Kadewere. A superioridade do FC Porto esbateu-se com o avançar do relógio, até porque os franceses iam conseguindo adormecer a partida e afastar o ataque dos dragões da baliza de Anthony Lopes, e Evanilson e Taremi foram lançados já a um quarto de hora do fim numa tentativa de agitar as águas.

Contudo, até ao fim e à exceção de um remate ao lado de Pepe (78′) e de uma enorme perdida de Vitinha nos descontos (90+3′), já pouco aconteceu. O FC Porto não foi além de um empate em Lyon e acabou eliminado da Liga Europa, uma competição onde até era um dos candidatos à vitória até há poucas semanas. Pepê marcou um grande golo, foi o melhor dos dragões e voltou a mostrar-se merecedor de uma titularidade clara — contudo, o brilho do brasileiro ficou baço num dia em que Sérgio Conceição mostrou claramente que a prioridade era, é e sempre foi a conquista do Campeonato.