A Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGES) considera que o setor social em Portugal está “infeliz”, pelo que exige a alteração da forma de financiamento das instituições, bem como a revisão de carreiras, disse este sábado o presidente da organização, Ricardo Pocinho.

“O setor social está infeliz. Aquilo que as pessoas [que trabalham neste setor] informam [nos estudos realizados pela ANGES] é que são muito felizes pelo bem que prestam aos outros — o tal comprometimento com a função, o sentirem que vão trabalhar e vão dar felicidade a uma criança, a uma pessoa com deficiência ou a um idoso —, mas são muito infelizes com as pessoas que as dirigem”, descreveu Ricardo Pocinho.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da ANGES, associação que conta atualmente com cerca de 3.400 associados individuais ativos, apontou que “o setor social é na realidade um setor privado, ainda que sem fins lucrativos”, pelo que “tem de ter outro tipo de gestão”.

“Quem tem dinheiro tem de pagar a totalidade para que quem não tem recursos possa beneficiar da totalidade da prestação social”, sintetizou.

Para o presidente da ANGES, que é também professor universitário e investigador, a forma como se processam atualmente os pagamentos dos utentes no sistema social “gera a falência do sistema”.

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Outra situação descrita pelo responsável prende-se com a integração ou não de profissionais de saúde nas estruturas das instituições que acolhem pessoas, sejam idosos ou pessoas com deficiência, por exemplo.

“Uma instituição que tenha até 39 utentes, independentemente do seu estado de saúde, não necessita de ter enfermeiros 24 horas por dia. Está absolutamente errado. As instituições que têm de ter uma resposta social, e cumpri-la da melhor forma, necessitam de mais, porque, depois do acolhimento, tudo o que é feito é uma resposta de saúde”, disse.

O investigador falava à Lusa a propósito das reivindicações que pretende tornar públicas no domingo, Dia Internacional da Felicidade, medidas que traduzem as conclusões de cinco estudos realizados pela ANGES nos últimos anos.

A “alteração da forma de financiamento das instituições, com comparticipação da totalidade do custo pelas famílias com possibilidades financeiras, podendo os acordos de cooperação pagar na generalidade o custo de quem tem reformas baixas e familiares com baixos recursos” é a primeira das reivindicações.

A ANGES também quer ver alterado o estatuto de Diretor Técnico, “dando-lhe o papel de administrador”.

“Somos gratos a quem de forma voluntária ajuda na gestão das instituições, mas não podemos permitir que alguns façam o que não sabem, afastando as pessoas deste setor e transformando-o num dos setores menos desejados para trabalhar, num país com taxa de desemprego preocupante”, lê-se no texto reivindicativo.

A revisão de carreiras é outra das reivindicações da associação, que considera que estas estão “desadequadas, múltiplas e sem sentido”, defendendo que as remunerações “devem ser equiparadas à da Administração Publica”.

“Portugal, vive um dos maiores desafios de sempre, ser capaz de sustentabilizar um setor que faz pessoas felizes e onde muitos dos que exercem funções são muito infelizes”, concluiu a ANGES.