As condições meteorológicas podem hoje em dia ser consultadas em qualquer local em poucos segundos. Tudo está à distância de um clique. Mas esse clique também pode tornar-se uma distância insuperável. Este sábado à tarde, quando o sol ainda se mostrava estando prometido que no domingo seria substituído pela chuva nada convidativa para ir ao futebol, o site do Benfica estava em baixo com tanta procura quando se tentava chegar à parte da compra de bilhetes (tudo o resto estava a funcionar bem). Também poderia ser já a vontade de garantir ingressos para a receção ao Liverpool na primeira mão dos quartos da Champions mas a intenção estava lá e nem o empate frente ao Vizela na Primeira Liga abrandou o entusiasmo.

Benfica-Estoril. Vertonghen tira em cima da linha (1-0, 48′)

“O sorteio ia ser sempre difícil, estamos nas oito melhores equipas da Europa. Relativamente à mudança de chip, temos jogadores muito experientes nesta abordagem, entre sair de um jogo de Champions e ir para a Liga. Há outros contextos que temos de ter em conta, depois deste jogo temos uma paragem para seleções. O nosso trabalho é de alerta e de sensibilização no sentido de dizer que para além do que está a envolver a equipa, amanhã [domingo] temos pela frente um adversário de qualidade, que nos vai trazer dificuldades. O jogo em Amesterdão foi exigente em termos físicos e mentais mas os jogadores certamente vão recuperar para darmos uma boa resposta”, comentara Nelson Veríssimo no lançamento da receção ao Estoril, um encontro com margem de erro zero até pela vitória na véspera do Sporting em Guimarães.

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“Vamos jogar contra uma equipa que está confortável na classificação, vai acabar por atingir o seu objetivo, é trabalhada pelo mesmo treinador há pelo menos duas épocas, com ideia de jogo bem definida. Tivemos a oportunidade de os defrontar a época passada na Segunda Liga, com o mesmo treinador, subiram de divisão por mérito da estrutura, jogadores e treinador, que tem conseguido vincar as ideias. Espera-nos um jogo difícil em que sabemos que temos de estar no nosso melhor contra uma equipa que gosta de ter bola e coloca cinco jogadores no processo defensivo. Temos de estar focados na nossa forma de jogar”, salientara, não perdendo de vista a possibilidade de chegar ainda ao segundo lugar que em termos internos foi definido depois do empate do Sporting na Madeira que deixou nessa jornada as águias a quatro pontos.

No entanto, nem todos estavam aptos. Taarabt, que tem sido aposta frequente no meio-campo, cumpria castigo e Darwin Núñez, melhor marcador da equipa, estava lesionado. E onde se podia ver crise, Nelson Veríssimo olhava para oportunidades. “O plantel é constituído por 23 jogadores mais guarda-redes, em todos os momentos precisamos de estar preparados para isto. Além do Darwin, temos o Gonçalo Ramos, o Yaremchuk e o Henrique Araújo. Temos de arranjar soluções para suprir essas ausências e quem entrar vai dar resposta. Não podemos lamentar as ausências e temos de acreditar nos que vão entrar”, frisara.

As novidade no onze, Meïté e Yaremchuk, foram até duas das exibições mais apagadas da noite. Muita entrega, muito esforço, poucos resultados práticos naquilo que seriam os principais objetivos individuais dentro do que o coletivo necessitava. No entanto, e dentro dessa “mini crise” de opções, surgiu mesmo uma oportunidade e Rafa, que continua à procura do momento que teve no arranque da temporada, foi quem mais se destacou com um momento que fez lembrar o que um dia Poborsky fez na Luz mas que Kandaurov, médio ucraniano que jogou quatro anos nos encarnados entre 1997 e 2001 que estava também a ver o jogo, comparou com o momento de Maradona no Mundial de 1986. Entre um e o outro, foi bem mais Poborsky do que Maradona. Ainda assim, a frase que marcou esse momento de génio de argentino também pode ser replicada para analisar aquilo que o internacional português conseguiu fazer: De qué planeta viniste?

O encontro começou a todo o gás e logo com três oportunidades nas duas balizas em dez minutos: Gonçalo Ramos teve o primeiro remate enquadrado de pé esquerdo, obrigando Dani Figueira a grande defesa para canto (3′); Grimaldo aproveitou o amontoado de jogadores à frente do guarda-redes estorilista na barreira para colocar a bola de livre direto no seu lado mas com nova intervenção atenta (7′); Mboula aproveitou uma insistência dos visitantes e desviou um cruzamento de cabeça ao poste (10′). Se o Benfica conseguia até com alguma facilidade visar a baliza dos canarinhos, também o Estoril ia metendo várias transições com muito envolvimento dos laterais que deixavam os encarnados em sentido na recuperação.

Eram esses movimentos ofensivos do conjunto de Bruno Pinheiro que iam conseguindo criar desequilíbrios na defesa encarnada, como voltou a acontecer pouco depois num remate de Soria defendido para canto por Vlachodimos (18′). O Benfica reagiu, com remates de Gonçalo Ramos e Gilberto por cima tendo um desvio de cabeça de Vertonghen após bola parada que passou muito perto do poste de Dani Figueira, mas nem sempre o jogo com bola dos encarnados tinha a velocidade e variabilidade necessárias para surpreender o setor defensivo dos canarinhos, aquele que maiores fragilidades iria revelando. E foi com o encontro nesse estado que surgiu o grande momento da partida, interpretado por Rafa, só Rafa e ainda mais Rafa.

Na sequência de um canto do Estoril no lado direito, o avançado agarrou na bola a mais de 70 metros da baliza, arrancou sem que nenhum dos quatro adversários tentasse sequer fazer falta (com o mais do que provável cartão amarelo) ou pressionar mais de perto em vez de acompanhar, foi mudando de velocidades e direções à medida que ia avançando e rematou cruzado de pé esquerdo para o golo da jornada que só não foi festejado de forma efusiva como merecia pelo próprio (34′). Mboula ainda teve mais uma oportunidade de cabeça após cruzamento de Francisco Geraldes numa boa saída (43′) mas o resultado ao intervalo já estava feito e com um momento que tão cedo não será esquecido pelos adeptos encarnados.

Um pouco à semelhança do que já tinha acontecido a determinada fase da primeira parte, o segundo tempo ficou marcado por uma questão de eficácia (ou não) nos dez minutos iniciais: em mais uma saída rápida a utilizar os corredores laterais, André Franco rematou de pé esquerdo na área mas Vertonghen substiuiu Vlachodimos e tirou a bola quase em cima da linha (48′); em mais uma descida pela direita, Gilberto teve tempo e espaço para cruzar atrasado e Gonçalo Ramos voltou a marcar de pé esquerdo (53′). Esse 2-0, mesmo faltando ainda muitos minutos até ao final do encontro, acabou por marcar em definitivo o jogo, algo sinalizado também pelos próprios adeptos com as luzes do telemóvel a fazerem uma coreografia.

Gonçalo Ramos, de novo a aparecer na área mais descaído sobre a esquerda, ainda teve um remate que podia ter levado perigo ao lado antes de Dani Figueira tirar a Rafa o bis com mais uma grande defesa para canto mas o encontro entrara numa fase mais monótona que só despertou já com Henrique Araújo em campo, a desviar de cabeça a rasar o poste da baliza dos canarinhos. E seria mesmo o Estoril a conseguir reduzir a desvantagem no terceiro minuto de descontos, com André Franco a aparecer novamente bem a fazer a diagonal, a ganhar espaço descaído sobre a esquerda e a rematar cruzado para o 2-1 final (90+3′).