O Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, rejeitou esta segunda-feira a possibilidade do fim do serviço militar obrigatório num futuro próximo, defendendo que este debate depende da reforma das Forças Armadas.
“Depende da discussão e do consenso a que as forças políticas chegarem em relação à reforma das Forças Armadas e é uma questão que não está em discussão neste momento. Portanto, vamos aguardar se as forças políticas e o próprio Governo tiverem qualquer impulso relativamente a esta matéria”, afirmou José Maria Neves, por inerência comandante supremo das Forças Armadas, no Mindelo, ilha de São Vicente.
Ao concluir o programa da sua primeira presidência aberta, descentralizada da Praia, que decorreu desde terça-feira na ilha de São Vicente, o chefe de Estado foi questionado com o tema das Forças Armadas, após alguns casos polémicos entre os recrutas nos últimos anos e numa altura em que se iniciou, este mês, a primeira incorporação militar do ano, obrigatória para maiores de 18 anos.
“As Forças Armadas são importantes para o país, garantem a unidade e a coesão nacional, é o espaço onde encontramos jovens de todas as ilhas e também é um espaço de criação do patriotismo de um profundo amor a Cabo Verde e de entrega à causa comum de todos nós. As Forças Armadas possuem um papel não só tradicional de defesa do país, mas também na área ambiental, na área da proteção civil, na área da segurança interna e têm uma competência em vários domínios e nós devemos valorizar o papel das Forças Armadas e o papel dos jovens que prestam serviço militar”, disse.
Segundo dados oficiais, apresentaram-se às inspeções obrigatórias realizadas em 2021, nas quatro juntas militares em Cabo Verde e ao abrigo do serviço militar obrigatório, um total de 1.681 mancebos, dos quais 860 das ilhas de Santo Antão, São Vicente e São Nicolau, 250 nas ilhas do Sal e da Boa Vista, 651 entre as ilhas da Brava, Fogo e cidade da Praia (Santiago), e 220 entre a ilha do Maio e o interior de Santiago.
José Maria Neves, Presidente da República desde novembro, falava em conferência sobre o final da visita à ilha de São Vicente, fazendo um balanço positivo da “primeira presidência na ilha”, de praticamente uma semana, que começou em 15 de março com a visita do Presidente de Angola, João Lourenço.
“Foi uma visita a todos os títulos auspiciosa. Há possibilidades de cooperação económico-empresarial com empresas sediadas em São Vicente e com a Universidade Técnica do Atlântico e com o Instituto do Mar, designadamente com os aspetos relacionados com a formação técnico-profissional, a formação superior e a investigação no domínio do mar”, considerou o Presidente, sobre a visita do homólogo angolano à cidade do Mindelo.
Para José Maria Neves, esta visita permitiu dar maior visibilidade à ilha de São Vicente, tendo em conta, também, que recebeu as cartas credenciais de sete novos embaixadores em Cabo Verde na cidade do Mindelo, nos últimos dias, e não na Praia, ilha de Santiago, como habitualmente.
“Puderam visitar a ilha, muitos visitaram também a ilha vizinha, de Santo Antão, ver as potencialidades culturais, económicas e empresariais da própria de São Vicente, o que é bom para o crescimento e a competitividade desta ilha”, acrescentou.
Durante esta presidência aberta, várias organizações da sociedade civil foram ouvidas pelo chefe de Estado, bem como personalidades, empresas e instituições, com foco na dinâmica de desenvolvimento da ilha, com José Maria Neves a destacar a capacidade cívica da população, mas admitindo também preocupação com o emprego jovem e com a escalada de preços.