A sinopse da história está para lá do surreal: o selecionador de basquetebol da Ucrânia, que é também o treinador do Kiev-Basket, foi convidado nas últimas semanas para orientar um clube… Russo. Ainars Bagatskis, que é natural da Letónia, rejeitou a proposta e mostrou-se chocado com o episódio.

“Disse-lhes: ‘Dêem-me uma metralhadora e eu atravesso o Kremlin’. Estão loucos? Como é que podem convidar-me para isto? Enquanto a Rússia for liderada por um ditador, trabalhar lá é tabu”, contou o técnico numa entrevista ao podcast “Sporta Studijas”. Ainars Bagatskis, que tem 54 anos, nasceu na antiga União Soviética e teve uma carreira de mais de 20 anos enquanto jogador em clubes da Letónia, da Polónia, de França e também da Lituânia. Desde 2019 e já depois de passar por várias equipas — incluindo os russos do Nizhny Novgorod — é o selecionador da Ucrânia, cargo que acumula com o papel de treinador do Kiev-Basket.

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Na mesma entrevista, o técnico revelou ainda que tem falado com várias pessoas que conhece dentro do basquetebol da Rússia e que estão chocadas com o facto de muitos jogadores da Letónia terem decidido abandonar os clubes e o próprio país. “Um deles ligou-me ontem e perguntou: ‘Como é que vocês, da Letónia, conseguem ir embora em paz? Têm de continuar a jogar’. O país deles está a atacar outro, está a bombardear cidades, está a matar pessoas — mas eles dizem que nós é que os ofendemos”, afirmou Ainars Bagatskis.

A seleção de basquetebol da Ucrânia, que estava em Espanha quando a invasão russa começou para defrontar os espanhóis num jogo de qualificação para o Campeonato do Mundo, ficou no país e ainda não sabe quando poderá regressar a casa em segurança. Já no início do mês, numa entrevista ao jornal Israel Hayom — foi treinador do Maccabi Tel Aviv durante vários anos –, Ainars Bagatskis tinha deixado considerações muito sérias sobre a guerra em território ucraniano.

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“No mundo inteiro, quando um país tem um problema, são encontradas soluções pacíficas. Só os fracos tentam resolver conflitos através da guerra. A forma como o mundo está a reagir à situação, em apoio à Ucrânia, é incrível. Para mim, a guerra não é contra a Rússia — é contra Putin. Todos os meus amigos no mundo inteiro, incluindo os meus amigos que estão na Rússia, estão completamente ao lado da Ucrânia”, disse o treinador, que não deixou de expressar muita preocupação com todos aqueles que deixou no país onde trabalha há vários anos. “Estou muito preocupado porque os meus amigos na Ucrânia estão em bunkers, debaixo da terra, devido aos mísseis que são disparados. Não é possível ficarmos em silêncio numa situação destas. A situação é má. Espero que seja encontrada uma solução em breve e que a vida possa voltar ao normal o mais rapidamente possível”, acrescentou Bagatskis.

Por fim, o técnico natural da Letónia garantiu que não tem “medo” de voltar à Ucrânia. “Nos últimos dias, os ucranianos têm mostrado aquilo de que são feitos e o quão fortes são. A Ucrânia não está sozinha. Todo o mundo apoia a Ucrânia e todo o mundo vai ajudar”, concluiu.