Um “tsunami” que “ameaça afogar um conjunto de atividades profissionais”. É assim que o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, classifica a conjuntura atual, que viu os efeitos da pandemia serem agravados pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Na apresentação de um estudo sobre os impactos do conflito na economia nacional, o responsável apelou ao regresso “urgente” do layoff simplificado, face ao risco de “encerramento” de algumas empresas, “sufocadas” pelo agravamento dos custos com a energia.

“Há tipologias empresariais que já pararam. Recordo o caso da Megasa, no setor da siderurgia, que parou até ao final do mês, porque o exponencial aumento dos custos energéticos não era suportável”, lembrou António Saraiva. Além disso, há empresas do setor têxtil, cerâmica e vidro que já reduziram atividades. “O que as empresas nos sinalizam é que, se nada for feito até ao fim do mês, podem encerrar as suas atividades, com o prejuízo que isso tem nas receitas e na manutenção do emprego”.

Segundo António Saraiva, “algumas empresas já entraram em soluções como recurso a férias e menos dias de trabalho, mas isto são paliativos, não são soluções para o enorme problema”.

O responsável denunciou ainda a “interrupção das cadeias de abastecimento”, motivada pela falta de matérias-primas como aço, alumínio e níquel, para justificar a “exigência” feita ao Governo, para que regresse “de imediato” com o layoff simplificado. “As empresas sem matéria-prima não podem trabalhar”. A CIP está a promover um inquérito junto das suas associadas para perceber quantas empresas, em concreto, estão em risco de suspender a atividade.

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O regresso do layoff é uma das seis medidas de caráter “urgente” que a CIP pede ao Governo. “O layoff demonstrou ser benéfico durante a pandemia. Estranho que num quadro que vem a piorar a viabilidade do uso da mão de obra, o Governo não queira recorrer a essa figura”.

Questionado sobre possíveis medidas alternativas à figura do layoff, António Saraiva foi perentório: “Não admitimos alternativas. Qualquer alternativa será uma enorme perda de tempo, que é o que menos precisamos neste momento. O layoff está experimentado e teve efeitos positivos”, reforçou.

Além desta solução, a CIP apela ao Governo para que requeira os 11,5 mil milhões de euros que estão aprovados no âmbito do PRR sob a forma de empréstimos. “Queremos que o Estado seja ousado e que peça este valor a Bruxelas para acudir às necessidades imediatas”.

Em complemento destas medidas, a Confederação apela ainda ao Executivo para que promova um alívio fiscal, a atribuição de verbas do Fundo Ambiental (ou outros) para redução das tarifas de gás e de eletricidade, a “admissão da necessidade, sobretudo no gás, de se recorrer ao défice tarifário” e a concessão de “apoios diretos a empresas de setores muito expostos à concorrência externa e com elevadas dependências energéticas”.

No estudo apresentado na tarde desta quarta-feira, a CIP identifica os setores da cerâmica, vidro, têxtil, químico e agroalimentar como os mais expostos à subida dos preços do gás natural, cujos preços dispararam 442% num ano nos mercados internacionais.

“O atual contexto veio agudizar a situação que, no início do corrente ano, se supunha que iria ser ultrapassada ao longo do segundo semestre de 2022. As perspetivas atuais situam-se, claramente, em sentido contrário, colocando às empresas desafios potencialmente ainda maiores do que os que foram provocados pela pandemia”, resumiu Jaime Braga, da mesma associação.

A CIP tem partilhado as preocupações com o Governo. Esta terça-feira teve lugar uma primeira reunião entre os parceiros sociais e quatro secretários de Estado, no âmbito de um grupo de trabalho criado para avaliar os efeitos da guerra. Os encontros, segundo António Saraiva, terão periodocidade semanal.