Ainda não eram 16h e a rua da Bainharia, em pleno centro histórico do Porto, enchia-se de estudantes universitários trajados, com instrumentos musicais nas mãos ou atrás das costas, fotógrafos, jornalistas e elementos da polícia. “O que vai acontecer aqui hoje?”, questionava um morador numa esplanada, rodeado de turistas igualmente surpreendidos e inquietos, já de telemóvel em punho a tirar fotografias ao aparato pouco habitual.

O primeiro a chegar ao local foi Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, que esperou no passeio por Marcelo Rebelo de Sousa para juntos inaugurarem uma residência universitária ali perto. O Presidente da República chegou pouco minutos depois, sem máscara no rosto e sem se inibir de cumprimentar com dois beijinhos populares efusivos com rosas nas mãos e cachecóis da seleção portuguesa ao pescoço. “O país não é só Lisboa, não se esqueça disto!”, atirava uma moradora da Sé, arrancando um sorriso e uma concordância do Presidente.

Ao fundo das escadas, uma tuna universitária cantou “O Pastor”, dos Madredeus, e “Burguesinha”, de Seu Jorge, pediu a Marcelo para dançar, mas o chefe de Estado limitou-se a aplaudir sorridente e acenar. Depois do concerto improvisado no meio da rua, que despertou a atenção de moradores que cantavam e também aplaudiam à janela, foi tempo da cerimónia oficial. No púlpito, o autarca do Porto recordou a importância do momento: a assinatura do protocolo entre o município e a Federação Académica do Porto (FAP) para a instalação do equipamento que irá servir a comunidade estudantil já a partir do próximo ano letivo.

Esta residência irá ser cedida e gerida pela FAP pelo prazo de 30 anos e terá capacidade para cerca de 20 camas, mas Moreira aproveitou a ocasião para anunciar mais duas residências para estudantes na cidade, uma no morro da Sé, com 6750 metros quadrados e um investimento de sete milhões de euros, e outra no antigo quartel do Monte Pedral, com 5000 metros quadrados e que custará seis milhões de euros.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Música, dança e muitos aplausos, o aparato foi grande no centro histórico da cidade

Já Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou a importância do Dia Internacional do Estudante, que se assinala esta quinta-feira, e das lutas que continuam as mesmas de há 60 anos. “A luta contra os autoritarismos, contra o espírito ditatorial, contra descriminações intoleráveis, contra o racismo, a xenofobia e o populismo. Tudo isso tem muito de comum com lutas do passado”, afirmou, prometendo que estará presente na próxima edição da Queima das Fitas do Porto, agendada para a primeira semana de maio.

No final da cerimónia, Marcelo e Moreira combinavam o encontro no Estádio do Dragão, onde pelas 19h45 a seleção nacional irá defrontar a Turquia. “Encontramo-nos lá, então?”, atirava o Presidente da República. Já cá fora, foi tempo de mais beijinhos a estudantes, as famosas selfies com a capa preta do traje nos ombros e os comentários sobre a situação atual na Ucrânia.

Aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que o presidente russo, Vladimir Putin, cometeu um erro ao pensar que perante a sua decisão de tomar o território ucraniano iria conseguir dividir a União Europeia e a própria NATO. “É evidente que falharam naquilo que foram os pensamentos de quem decidiu esta agressão. Falhou o ponto de que a UE se ia dividir, de que a NATO se ia dividir, falhou o ponto de que a UE e a NATO não se iam entender e falhou o ponto de que dentro da NATO havia uma visão europeia e uma americana. Há uma só visão.

Para o Chefe de Estado, a Rússia cometeu ainda uma outra falha ao invadir a Ucrânia: não avaliou a resistênci das tropas deste país e achou que era já uma “vinha vindimada”. No dia em que os países da NATO se reuniram numa cimeira extraordinária para discutir a guerra que já dura há um mês, o Presidente sublinhou que outra das falhas da Rússia foi achar que a resposta da UE e da NATO perante um conflito seria “fraca”, o que, efetivamente, não aconteceu. “Houve sanções económicas e uma presença militar forte nas fronteiras dos países da NATO”, disse, lembrando que no caso de “uma agressão ou um ataque contra a NATO, a NATO não se fica”.

Marcelo cancelou audiência com Costa ao saber quem eram os ministros pela comunicação social

Para Marcelo Rebelo de Sousa, a NATO e a União Europeia “continuam unidas”, independentemente da ideologia da cada país, pela “paz e pelo respeito do direito internacional, da soberania dos estados, dos direitos das pessoas”, acrescentou, explicando que a NATO “responde em legítima defesa a essa agressão, mas não agride, não deve agredir porque não é uma aliança ofensiva”.

Nas mesmas declarações, o Presidente aproveitou para criticar o facto de PCP usar a invasão russa para fazer oposição em Portugal. “Ouvir um dirigente de esquerda dizer, por exemplo, que mesmo numa situação em que há poder e oposição, a oposição vir a defender uma invasão por um país estrangeiro para resolver o problema da democracia desse país. Isso não faz sentido.”

Apesar das perguntas insistentes dos jornalistas, Marcelo não quis comentar a nova composição do Governo, nem tão pouco o mal entendido desta quarta-feira, que o levou a cancelar o encontro com o primeiro-ministro, António Costa. “Agora é tempo do Governo tomar posse, apresentar o seu programa, o seu orçamento e de olhar o futuro”, disse, chamando a atenção para o facto de existir uma concentração de pastas. “Essa concentração significa, no caso do poder local e da descentralização, reforçar, por um lado, o poder da presença no Conselhos de Ministros e, por outro lado, reforçar o poder do ministério encarregado desse pelouro. Vamos ver como isso corre.”