A segunda deputada eleita pelo PS no círculo da Europa, Nathalie de Oliveira é “filha do salto”, tendo nascido em França, sendo a primeira lusodescendente a chegar à Assembleia da República, “um peso” e uma “alegria” para esta política.

“Sinto a esperança e a alegria das comunidades neste caminho que se abriu agora. Sei que não estou sozinha, estou muito bem acompanhada por todos os portugueses que vivem na Europa”, disse Nathalie de Oliveira, em declarações à agência Lusa.

Nos resultados provisórios da repetição das eleições legislativas no círculo da Europa o PS obteve 32,98% (29,06% em 2019) e o PSD 14,99% (18,77%), fazendo com que os sociais-democratas perdessem o deputado que tinham até agora e levando os socialistas a eleger Paulo Pisco, cabeça de lista, e Nathalie de Oliveira.

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Oriunda da região do Grande Este, Nathalie de Oliveira integra as estruturas do PS português e francês, tendo sido até 2020 autarca na cidade de Metz. Está envolvida no mundo associativo português e mantém uma atividade profissional ligada à consultoria junto de associações de defesa dos Direitos Humanos em França.

Eleita no dia em que o tempo de democracia em Portugal ultrapassa a duração da ditadura, Nathalie de Oliveira lembra o passado do seu pai, saído de Portugal “a salto” aos 15 anos por “não querer viver no silêncio” imposto por Salazar, nem querer ir para a guerra em África “numa terra que não conhecia e que nem achava que lhe pertencia”.

“Tinha de acontecer neste dia, o dia de mais democracia do que de ditadura. Entro eu, filha do ‘salto’, para representar todas as pessoas que tiveram de abandonar o seu país com desgosto por causa da ditadura, mas com sonhos de liberdade”, declarou.

Durante o primeiro ano de mandato, Nathalie de Oliveira tem um objetivo: a lei da reforma eleitoral. Para esta franco-portuguesa, as empresas de correios dos dois países já não são o que eram e ficaram patentes as limitações dos votos por correspondência, sendo importante diversificar os meios de voto.

“A reforma tem, desde logo, de melhorar as modalidades de participação cívica e política e dar mais acesso ao voto. Devemos melhorar o que existe e acrescentar outras formas. O voto por correspondência, já sabemos, vou insistir no facto de se desistir da cópia do cartão do cidadão, de conseguir alargar as mesas de voto presenciais e o que está a ser estudado para o voto eletrónico”, assegurou.

A avalanche de mensagens da comunidade portuguesa um pouco por toda a Europa começou a chegar desde quarta-feira, com a nova eleita a considerar que a sua eleição é uma prova de maturidade destas comunidades e que é preciso repensar a representatividade dos portugueses que vivem fora do país.

“Chegámos ao ponto de maturidade da história das comunidades e os nossos compatriotas são cada vez mais exigentes, com razão. O número de pessoas a residir neste círculo eleitoral da Europa pode assustar, mas coloca desafios à democracia e às instituições, assim como à representação política”, concluiu.

Segundo os dados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) aos primeiros minutos desta quinta-feira, votaram 110.182 eleitores (11,90% dos inscritos), o que representa uma abstenção de 88,10%.

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Na votação que foi considerada nula, em 30 de janeiro, a abstenção tinha sido de 79,33%. Foram considerados nulos 33.565 votos, o que continua a ser um número bastante elevado e que suscita preocupações para a CNE.

A primeira reunião plenária da XV Legislatura deve realizar-se na próxima terça-feira, dia 29 de março, sessão em que os deputados vão proceder à eleição do novo presidente da Assembleia da República. A tomada de posse do novo Governo está prevista para 30 de março.