Os Estados Unidos esperam que os talibãs revertam a sua decisão de excluir as raparigas das escolas afegãs “nos próximos dias”, declarou este sábado o emissário norte-americano para o Afeganistão, Thomas West.

“Tenho uma esperança muito elevada em ver nos próximos dias a reversão desta decisão”, disse o responsável à margem do Fórum de Doha, capital do Qatar.

Os talibãs, no poder no Afeganistão desde agosto de 2021, anunciaram na quarta-feira que não iriam permitir que as raparigas estudem em escolas do ensino básico e secundária, poucas horas depois do arranque do primeiro dia de aulas.

A medida, que implica que as raparigas apenas possam frequentar a escola até ao final do 5. ano (equivalente ao 1.º e 2.º ciclos em Portugal), representa um incumprimento das promessas iniciais dos talibãs de permitir o estudo das raparigas.

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António Guterres condena suspensão das aulas para raparigas no Afeganistão

Em resposta, os Estados Unidos cancelaram as negociações os talibãs.

“Fiquei surpreendido pela inversão da situação na quarta-feira passada (…) Trata-se, antes de mais, de uma violação da confiança do povo afegão”, disse o West.

“A nossa política não é contra a educação das raparigas”, assegurou um porta-voz dos talibãs, Suhail Shaheen, à agência France Presse.

Explicou que “surgiram alguns problemas de ordem prática” que “não tinham sido resolvidos na data-limite prevista para a abertura das escolas de raparigas, a 23 de março”.

Os observadores internacionais temem que o movimento fundamentalista decida novamente proibir as raparigas de frequentarem a escola, como fez durante seu primeiro ‘reinado’ no Afeganistão, de 1996 a 2001.

Esta decisão junta-se a várias outras restrições que os talibãs já impuseram às mulheres nos seus sete meses de poder, como a exclusão de muitos empregos públicos, o controlo do vestuário e a proibição de viajarem sozinhas para fora da sua cidade.

A medida foi criticada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e por vários representantes de organismos internacionais, como a UNICEF, que apelaram à igualdade no acesso ao ensino.