Dezenas de mulheres foram impedidas pelos talibãs de embarcar em voos comerciais por não estarem acompanhadas de um guardião masculino, noticia este sábado a agência Associated Press, que cita dois responsáveis de companhias aéreas afegãs.

Os responsáveis, que falaram sob anonimato por medo de represálias dos talibãs, disseram que algumas das mulheres, que tentaram viajar na sexta-feira no Aeroporto internacional de Cabul, tinham dupla nacionalidade e preparavam-se para regressar às suas casas no estrangeiro.

As mulheres foram impedidas de embarcar em voos com destino a Islamabad, Dubai e Turquia, em voos das companhias aéreas afegãs Kam Air e Ariana Airline, esta última uma companhia estatal, disseram as fontes.

Segundo um dos responsáveis, a ordem foi dada pela liderança talibã.

Já este sábado, algumas mulheres foram autorizadas a entrar num voo da Ariana Airlines para a província ocidental de Herat, mas quando a autorização chegou elas já tinham perdido o voo, disse a mesma fonte.

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O presidente do aeroporto e o chefe da polícia, ambos do movimento talibã e ambos clérigos islâmicos, têm prevista para hoje uma reunião com os responsáveis das companhias aéreas.

“Estão a tentar resolver isto”, disse a fonte à Associated Press.

Os Talibãs, que estão no poder no Afeganistão desde agosto de 2021, reverteram na quarta-feira a sua decisão de permitir que as raparigas estudassem em escolas do ensino básico e secundário, poucas horas depois do arranque do primeiro dia de aulas após as férias.

A medida anunciada permite às raparigas frequentar a escola apenas até ao final do 5.º ano, que é o equivalente ao 1.º e 2.º ciclos em Portugal.

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A decisão junta-se a uma multiplicidade de restrições que os talibãs já impuseram às mulheres nos seus sete meses de poder: Estão excluídas de muitos empregos públicos, a forma como se vestem é controlada e estão proibidas de viajar sozinhas fora da sua cidade.

No dia em que os talibãs anunciaram o recuo, vários representantes de organismos internacionais, desde a Unicef ao presidente da Assembleia Geral da ONU, criticaram a medida, apelando à igualdade no acesso ao ensino.

O retrocesso também enfureceu vastas camadas da população afegã e hoje dezenas de raparigas manifestaram-se em Cabul para reclamar o direito de ir à escola.