Kate e Gerry McCann – os pais da menina britânica Madeleine que desapareceu no Algarve há quase 15 anos – adiantaram que não irão desistir até descobrir o que aconteceu à filha e que pretendem usar o dinheiro que resta do fundo “Find Madeleine” para prosseguir a investigação da polícia britânica, que deve ser arquivada até ao fim do ano. O fundo tem atualmente 900 mil libras (cerca de 1.1 milhões de euros) e, segundo o El Mundo, o montante servirá para investir em detetives privados. “Continuamos agarrados à esperança, por mais pequena que seja, de voltar a ver Madeleine”, justificam, citados pelo mesmo jornal espanhol.

Porque Madeleine ainda está desaparecida e alguém tem de procurá-la. Porque é demasiado jovem e vulnerável e precisa da nossa ajuda. Porque nós amamos [a Maddie] e sentimos a falta dela, e faltam-nos palavras para descrevê-lo”.

O casal refere que será sempre grato “à polícia pelos seus contínuos esforços. A Covid tornou tudo mais difícil, e mesmo assim a investigação conseguiu continuar”, mencionaram também os McCann. Durante a pandemia, inclusive, Kate McCann voltou ao trabalho após 14 anos de licença do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla inglesa).

A Scotland Yard estará a planear arquivar o processo de investigação ao desaparecimento de Maddie. De acordo com o The Sun, que avançou a notícia, o financiamento à “Operação Grange” será interrompido. Ao todo, os custos com a investigação no Reino Unido – que tem financiamento garantido (no máximo) até setembro – vão superar as 13 milhões de libras (aproximadamente 15 milhões de euros). Aliás, as verbas atuais acabam a 31 de março, mas já foi submetido um pedido ao Ministério do Interior britânico que prolongará o processo até ao final de setembro. A Operação chegou a ter uma equipa de 40 inspetores — agora está reduzida a quatro.

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Maddie McCann. Investigação da polícia britânica deve ser arquivada até ao fim do ano

A decisão dever-se-á à incapacidade de as autoridades britânicas provarem que aquele que é para as autoridades alemãs o principal suspeito do caso, o pedófilo (também alemão) Christian Brueckner, é culpado.

Em 2020, as autoridades alemãs revelaram que tinham “provas concretas” de que Maddie estava morta e de que um cidadão alemão estaria envolvido no crime. “Temos muitas provas de que Madeleine foi morta por Christian”, garantiu o procurador alemão Hans Christian Wolters à RTP nesse mesmo ano — só que até agora as “muitas provas” não permitem acusar o homem que está atualmente a cumprir sete anos de prisão em Oldenburg (Alemanha) por ter violado uma mulher de 72 anos em Portugal.

Autoridades alemãs têm provas materiais de que Maddie está morta

Desde a apreensão pelas autoridades alemãs de uma carrinha branca da marca Volkswagen (modelo T3 Westfalia, do início dos anos 1980, com matrícula portuguesa) que o suspeito usou para viver e também um automóvel Jaguar (modelo XJR 6, com matrícula alemã e registado na Alemanha) até à lista de 74 mil números entregues à PJ pelas operadoras, as palavras de Christian Wolters continuam por cumprir.

O criminoso perfeito? Como Brueckner passou ao lado da investigação e 13 anos depois parece ser a chave do mistério Maddie

Desde os mais de dois mil inquéritos policiais até os cerca de nove mil alegados avistamentos (em pontos tão díspares como Malta, Marrocos, Espanha ou Bélgica), a única certeza é que a menina inglesa desapareceu no dia 3 de maio de 2007 – poucos dias antes de fazer quatro anos — num apartamento de um aldeamento turístico na Praia da Luz, onde dormia com os irmãos gémeos mais novos, Amelie e Sean, enquanto os pais jantavam a algumas dezenas de metros. Se estiver viva terá hoje 18 anos.

Recusando o envolvimento no desaparecimento ou na morte de Maddie, o recluso alemão, após a notícia do arquivamento da investigação, escreveu uma carta com 14 páginas onde afirmou estar a receber ameaças de morte na prisão e pediu proteção. “Fui obrigado a isolar-me porque existe uma alta possibilidade de ser atacado pelos meus companheiros. É uma tortura”, lê-se no documento que o jornal alemão Bild teve acesso. 

A Operação Grange foi iniciada em maio de 2011, quatro anos após o desaparecimento de Maddie e no seguimento de uma carta aberta de Kate McCann ao então primeiro-ministro britânico David Cameron onde pedia que a polícia britânica abrisse um inquérito. Onze anos e mais de 15 milhões de euros depois, a investigação arrisca-se a terminar sem que haja um único acusado. 

O caso ficou a cargo do inspetor Andy Redwood, e em 2014 passou para Nicola Wall, mas é já com Mark Cranwell no comando que Christian Brueckner é apontado como principal suspeito.

Antes disso, o rosto da investigação era o do ex-inspetor da PJ, Gonçalo Amaral, que considerou os pais “suspeitos”, tendo chegado a pensar que Kate estaria disposta a revelar a eventual localização do corpo da filha e defendeu que houve uma simulação do rapto da criança (e publicou estas e outras alegações num livro). Em 2015, foi condenado a pagar 500 mil euros ao casal McCann, porém em 2016 o Tribunal da Relação revogou a sentença.

Caso Maddie: Gonçalo Amaral condenado a indemnizar casal McCann

A Polícia Judiciária reabriu a investigação em 2013, depois de o caso ter sido arquivado pela Procuradoria-Geral da República em 2008, ilibando três arguidos, os pais de Madeleine, Kate e Gerry McCann, e um outro cidadão britânico que vivia no Algarve, Robert Murat.