Em 2021, Espanha foi o país de residência dos detentores finais com maiores posições de investimento  direto em Portugal. Seguiram-se Portugal, devido a um fenómeno de “round-tripping”, França, Reino Unido e China.

Os números foram publicados esta terça-feira pelo Banco de Portugal (BdP), e revelam a origem real dos investimentos em Portugal. Ou seja, até ao momento, as estatísticas do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) permitiam apenas identificar o país de residência do investidor imediato. A partir de agora, o supervisor da banca vai passar a publicar a origem dos investidores finais, eliminando o chamado país de passagem.

Esta mudança significa que países como o Luxemburgo ou os Países Baixos, que constavam no top 3 dos países que mais investem em Portugal, baixam significativamente na tabela, por serem países de passagem, devido a vantagens fiscais.

Concretamente, os Países Baixos passam da segunda para a sexta posição, enquanto o Luxemburgo deixa de ser o terceiro maior investidor no país, para passar a ser o décimo. Em ambos os casos, Espanha lidera a tabela.

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Pelo contrário, países como a China e os Estados Unidos sobem no ranking, uma vez que concretizam grande parte dos seus investimentos no país através de outras geografias. A China, por exemplo, é, afinal, o quinto maior investidor no país, e não o nono, como constava nos dados que mostravam apenas as contrapartes imediatas. A China foi responsável por 6,8% do investimento total no país no ano passado, totalizando cerca de 10,6 mil milhões de euros. As estatísticas que revelam a contraparte imediata mostram que, contando países terceiros, o investimento chinês foi de apenas 2% do total de 154,9 mil milhões de euros realizados em Portugal no ano passado.

Em 2021, 28% do investimento chinês em Portugal foi feito diretamente através da China, sem utilizar países terceiros. Já 41% da posição de investimento direto chinês em Portugal era detida  através do Luxemburgo e 22% através de Hong Kong, revelam os dados do BdP.

Em menor escala, no caso de França, 66% da posição de investimento direto em Portugal era detida  diretamente por entidades francesas, enquanto 28% foi efetuada com recurso a entidades intermediárias sediadas no Luxemburgo.

Na lista revelada pelo BdP, há ainda um pormenor novo: Portugal surge no segundo lugar da tabela dos principais investidores finais… em Portugal, com 23,5 mil milhões de euros. O supervisor explica que isto deve-se à prática de round-tripping, ou seja, o investidor final  coincide com país do investimento. Está “associado à passagem do investimento com origem  e destino em Portugal por entidades intermediárias residentes nos Países Baixos e no Luxemburgo (59% e 17%, respetivamente)”.

No total, de Espanha vieram para Portugal 23,6 mil milhões de euros, seguindo-se França, com 17,1 mil milhões, e Reino Unido, com 13,3 mil milhões. O top 10 fica completo com China (10,6 mil milhões), Países Baixos (8,7 mil milhões), Alemanha (7,6 mil milhões), Estados Unidos (7,1 mil milhões), Brasil (cinco mil milhões) e Luxemburgo (4,3 mil milhões).

Entre os 20 principais países de origem do investimento, que em conjunto representavam 93% do valor total do IDE no final de 2021, constam ainda Angola, Suíça, Itália, Bélgica, Suécia, Canadá, Irlanda, Turquia, México e Austrália.

A análise por setor de atividade económica revela ainda que 38% do investimento direto realizado  no setor da eletricidade, gás e água provinha da China, enquanto 31% do investimento nas indústrias  transformadoras portuguesas tinha origem no Reino Unido.

A nível mundial, só 17 países publicam este tipo de estatísticas, sendo 11 deles europeus. Para chegar aos números hoje apresentados pelo BdP, é necessária informação complementar, cujo reporte não é obrigatório.