A internet não esquece e o baixista John B. Williams também não. Depois de a noite dos Óscares ter ficado marcada pela bofetada de Will Smith, numa reação à piada do comediante Chris Rock sobre o aspeto de Jada Pinkett Smith, um vídeo (com mais de 30 anos) que mostra o ator de 53 anos a gozar com a calvície do músico ressurgiu nas redes sociais.

A bofetada de Will Smith a Chris Rock no momento mais insólito (da História) dos Óscares

Foi o neto de Williams que o relembrou do momento de 1991, ao mostrar-lhe o vídeo. Nele, Will Smith gozou com a careca do então membro da banda da casa “Posse” durante um episódio de “The Arsenio Hall Show”.

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“O baixista? Ele tem uma regra. Ele tem que depilar a cabeça todas as manhãs. É uma regra! Ele segue as regras”, ouve-se Smith dizer no vídeo que está a circular no Twitter.

Enquanto Smith pronunciava aquela que seria uma anedota, a câmara filmou Williams a sorrir e a acenar com a cabeça. Tal como demonstrou e admitiu à Rolling Stone, o baixista não a levou “a sério”. “Ele era um comediante. Ele era o ‘Fresh Prince of Bel Air’. Ele era um rapper. Eu levei aquilo como uma piada. Ri.” Quando a plateia parecia retaliar com apupos, Smith salvaguardou: “Oh, isto são piadas”.

John B. Williams não consegue condenar totalmente a atitude de Smith na madrugada de segunda-feira. Para o baixista, as duas piadas – uma dita por Smith e a outra que o levou a ser agressivo — são semelhantes, porém distintas em dois aspetos.

Primeiro, Williams não sofre de alopecia, tal como garantiu à Rolling Stone. O seu cabelo estava fraco, possivelmente devido a um caso de sarampo na infância e ao tratamento que recebeu, pelo que decidiu rapá-lo. Depois, a incapacidade de Smith de encarar a piada em tom de brincadeira deveu-se, acredita, à esposa mulher ter sido o alvo e não o próprio.

Chris Rock é um comediante. Eu gosto do Chris Rock. Quando Chris fez o comentário pela primeira vez, Will estava a rir. Pelo menos até ficar óbvio que Jada não a achou engraçada e, aí, Will saiu em sua defesa. O amor faz-te fazer todo o tipo de coisas. É a esposa dele, que ele ama. Ele reagiu por indignação”, justificou.

“Ambos são jovens decentes”, considerou Williams. “Eu gosto de ambos. Não gostaria de ver nada de mal a acontecer-lhes. Precisam de resolver isto sozinhos. Eu gostaria de vê-los a ultrapassar isto e talvez a saírem juntos. Acho que há arrependimento de ambos os lados”, disse, embora admita que gostaria de ter visto Smith a usar as palavras antes e não depois, numa alusão ao pedido de desculpas publicado no Instagram. Williams não quer igualmente ver a Academia a retirar o prémio a Smith pela atuação no filme “King Richard”.

Entretanto, um episódio (polémico) de 2012, durante a antestreia do filme “Homens de Negro 3”, também foi ressuscitado: Will Smith afastou e de seguida deu um estalo a um repórter que o tentou beijar na passadeira vermelha.

Os traumas de infância, a terapia e a reputação em jogo

Já muito aconteceu desde a noite dos Óscares. A Academia condenou a estalada de Will Smith e o ator pediu publicamente desculpas a todos os envolvidos, incluindo o esbofeteado Chris Rock. Agora, fontes anónimas asseguram que Smith, de 53 anos, vai fazer terapia a propósito dos “problemas de infância que ficaram por resolver”, numa altura em que o ator está a fazer um esforço para salvar a carreira, a reputação e até o Óscar de Melhor Ator, uma distinção atribuída na sequência da sua performance no filme “King Richard: Para Além do Jogo”.

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Segundo o The Sun, fontes associadas ao livro autobiográfico “Will”, publicado no final do ano passado, dizem que o ator reagiu violentamente na madrugada de segunda-feira porque a situação serviu de gatilho para um trauma vivido na infância. Amigos de Smith argumentam que as polémicas ações estão relacionadas com um episódio de quando o ator tinha apenas nove anos e sentiu-se impotente ao ver o pai, Willard Carroll Smith, a bater na mãe.

A piada sobre a condição de saúde de que Jada Smith padece fez com Will Smith fosse “levado de volta à infância”. O ator estará agora “horrorizado com o rumo de acontecimentos” e inundado por um “profundo sentimento de vergonha”.

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Já antes o Observador escreveu como o facto de a mãe ter sido vítima de violência doméstica deixou o ator com um sentimento de cobardia que o perseguiu durante quase toda a vida — um sentimento que só terá conseguido ultrapassar após a morte do pai, em 2016, e com a publicação da biografia, em 2021. Agora, segundo estas fontes, não será bem o caso.