A 24 de março corria a notícia de que a Coreia do Norte disparara um míssil balístico intercontinental, o primeiro desde 2017, o qual voou durante 71 minutos e caiu em águas japonesas — lançamento esse supervisionado pelo próprio Kim Jong-un, que envergou uns óculos escuros e um casaco de cabedal para a ocasião, fazendo lembrar o filme “Top Gun – Ases Indomáveis”. Agora, a versão dos factos é outra: segundo serviços de informação da Coreia do Sul e dos EUA, a Coreia do Norte forjou o lançamento bem sucedido daquilo que seria o seu mais poderoso míssil de longo alcance (“míssil monstro”).

Kim Jong-un supervisionou lançamento de míssil balístico intercontinental (de óculos escuros e em câmara lenta)

Foram encontradas discrepâncias no relato de Pyongyang: afinal, a Coreia da Norte terá lançado um Hwasong-15, uma versão menos avançada do que aquele que alegadamente cruzou os céus na passada quinta-feira, um míssil que já em 2017 tinha sido testado.

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De acordo com analistas consultados pela AFP, Kim Jong-un precisava urgentemente uma de vitória doméstica antes de uma data simbólica — o aniversário de nascimento do líder fundador Kim Il Sung, 15 de abril —, sobretudo depois de o lançamento real do Hwasong-17, uma semana antes, ter falhado, com a arma a explodir sobre Pyongyang.

Coreia do Norte dispara míssil balístico intercontinental. Primeiro lançamento desde 2017

“O lançamento de 16 de março falhou espetacularmente e — pior — aconteceu em Pyongyang. (…) Kim provavelmente pensou que precisava de algo muito forte para compensar”, disse o analista Yang Moo-jin à agência de notícias. Esta não terá sido a primeira vez que a Coreia do Norte mentiu face ao progresso no armamento.

O vídeo do lançamento esteve na origem das primeiras suspeitas, uma vez que foram detetadas discrepâncias que deixaram analistas de sobreaviso. O site NK News, sediado em Seoul, analisou imagens de satélite e encontrou indicação de que algumas imagens foram, na verdade, filmadas antes da data assinalada pela Coreia do Norte (provavelmente dizem respeito ao teste fracassado do dia 16 de março).

“Kim Jong-un provavelmente tinha como alvo o público doméstico, para suprimir rumores que provavelmente se espalharam sobre o fracasso altamente visível do ICBM [míssil balístico intercontinental] sobre Pyongyang na semana anterior”, disse também à AFP o analista da NK News Colin Zwirko.