A Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) considerou terça-feira que casos criminosos envolvendo militares levantam suspeitas sobre uma eventual “baixa de fasquia” no recrutamento, permitindo o ingresso de indivíduos com antecedentes duvidosos.

Num comunicado assinado pelo presidente do Conselho Nacional da AOFA, tenente-coronel António Mota, esta associação militar refere que se sucedem “os casos com militares das Forças Armadas, casos do foro criminal, em que fica a suspeita sobre alguns critérios de recrutamento, suspeita de que se vai baixando a fasquia que permite aceitar indivíduos com historial de vida e motivações, no mínimo, duvidosos”.

“A [cada vez maior] exiguidade de efetivos, em quantidade, tendencialmente levará, “em desespero de causa”, a um afrouxar dos imperiosos critérios de rigor na seleção, sendo que as muito insuficientes condições de atratividade [remuneratórias, de apoio na saúde, carreiras, segurança e condições de trabalho, etc.] “parecem” ser causa inevitável para uma cada vez mais indisfarçável redução, também, qualitativa dos efetivos militares. Assim vai Portugal e as suas Forças Armadas”, lamentam na nota.

A AOFA faz ainda referência ao “trágico, incompreensível, inexplicável, inqualificável episódio em que o agente da PSP Fábio Guerra veio a falecer”, que envolve dois fuzileiros da Armada.

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“Mesmo respeitando-se o princípio inalienável da “presunção de inocência”, [este caso] indicia ser mais uma consequência e contrapartida da gestão, sempre em “deficit”, das Forças Armadas, sendo responsáveis em primeiro lugar desta gestão os partidos que, nas últimas décadas, tiveram a responsabilidade de definir e implementar as políticas que conduziram as Forças Armadas à situação em que hoje se encontram e para a qual não se vislumbram quaisquer melhorias nos anos vindouros, mantendo-se essas políticas [escolhas (in)conscientes] que têm vindo a ser prosseguidas”, acrescentam.

A AOFA deixa também uma palavra de solidariedade e “os mais profundos pêsames” aos familiares, amigos, camaradas e companheiros de Fábio Guerra, “bem como à instituição que se constitui a Polícia de Segurança Pública”.

Esta associação militar recorda as mais recentes palavras do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), almirante Gouveia e Melo, de que não quer “arruaceiros” na Marinha, acrescentando esta associação que não quer “arruaceiros nas Forças Armadas”. “Haja a coragem de inverter este quadro que há décadas afirma um estatuto de quase indigência dos militares portugueses. As dolorosas consequências estão cada vez mais à vista”, vincam.

Por último, “mas não menos relevante”, a AOFA expressa ao Corpo de Fuzileiros, “a mais profunda solidariedade e reconhecimento pelos extraordinários serviços prestados a Portugal ao longo de 400 anos de existência e enaltece os valores e princípios militares pelos quais se rege e que sempre foram, são e continuarão a ser, um verdadeiro exemplo do que é servir Portugal”.

“Que em circunstância alguma e seja sob que pretexto for haja a mínima veleidade, seja por parte de quem seja, de colocar em causa o prestígio dos “Fuzos” de Portugal”, sublinham.

O agente Fábio Guerra, de 26 anos, morreu no passado dia 21 de março, no Hospital de São José, em Lisboa, devido às “graves lesões cerebrais” sofridas na sequência das agressões de que foi alvo no exterior da discoteca Mome.

De acordo com as informações da PSP, no local encontravam-se “quatro polícias, fora de serviço, que imediatamente intervieram, como era sua obrigação legal”, acabando por ser agredidos violentamente por um dos grupos, formado por cerca de 10 pessoas. Os outros três agentes agredidos tiveram alta hospitalar no domingo.

Um dos suspeitos no envolvimento nas agressões, civil, foi libertado após ser interrogado pelo Ministério Público e os restantes dois detidos, fuzileiros da Armada, ficaram na passada quarta-feira em prisão preventiva.