O Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis, que pretende estudar de forma sistemática e promover a saúde e bem-estar das organizações e seus profissionais, arranca no final do mês e pretende, no futuro, ajudar empresas a melhorar resultados.

A iniciativa, dinamizada pela psicóloga Tânia Gaspar, conta, entre as organizações fundadoras, com a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, a Cruz Vermelha Portuguesa, o Programa Nacional de Saúde Ocupacional da Direção-Geral da Saúde, o Instituto Nacional de Administração e diversas ordens profissionais, sociedades científicas e universidades (Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, Universidade Lusíada e Universidade do Algarve).

Tem como membros fundadores diversos profissionais de áreas como a psicologia, saúde e gestão, saúde mental, sociologia e economia e conta igualmente com a colaboração de investigadores internacionais.

Em declarações à Lusa, Tânia Gaspar reconhece que os ambientes de trabalho saudáveis são um tema que está a ganhar interesse na sociedade, nas organizações e nos trabalhadores, lembrando que a pandemia deu também mais projeção ao assunto.

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Estamos a mudar em termos sociais e laborais e as novas gerações são mais centradas no seu bem-estar. Elas vão ficar onde se sentirem bem e se as organizações não tiverem a capacidade de as captar, no futuro, teremos mais dificuldade em reter os talentos, especialmente em áreas tecnológicas”, defende a investigadora.

Acredita que os ambientes de trabalho saudáveis são um “tema do futuro” que vai passar a ser obrigatório e a fazer parte da qualidade das organizações para poderem captar bons profissionais e ter melhores resultados.

O laboratório partiu de um projeto piloto denominado EATS (Ecossistemas de Ambientes de Trabalho Saudáveis), que serviu para criar e validar um instrumento de avaliação de ambientes de trabalho saudáveis, que tem em conta as condições de saúde e estilos de vida dos profissionais e a forma como as organizações são ecossistemas promotores da saúde e do bem-estar.

“Analisamos vários critérios, entre eles as condições físicas em que se trabalha, o facto de os profissionais serem envolvidos ou não nas tomadas de decisão, como a organização promove a saúde dos seus profissionais e, por exemplo, que medidas tem de apoio à família”, explica à Lusa a diretora do Instituto de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade Lusíada de Lisboa, Tânia Gaspar.

A responsável adianta que não havia um instrumento que pudesse ser usado para medir de forma integral e especifica os ambientes de trabalho saudáveis e sublinha a sua importância para as organizações: “no limite, quando a organização tem a perfeita noção de como está e do que pode melhorar, por vezes pequenas alterações trazem grandes diferenças no resultado final”.

“Com uma cultura organizacional mais saudável, com menos stress e melhor qualidade de vida no trabalho consegue-se melhor desempenho e isto melhora os resultados e a satisfação dos profissionais e dos clientes”, considera.

Sublinha igualmente a importância de criar um clima que envolva os profissionais nas tomadas de decisão das empresas e de se adaptar a cultura dos profissionais aos resultados esperados pelas empresas.

O instrumento de avaliação EATS foi co-construido e validado com a colaboração de 45 organizações. Abrange áreas como a ética e cultura da organização, o envolvimento com a liderança, o ambiente físico, a relação da responsabilidade social da empresa com a comunidade e até os recursos para a saúde. Tudo é avaliado para medir o quão saudável é trabalhar na empresa.

Depois de aplicado o questionário — que será distribuído pela organização aos seus profissionais — o Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS) trabalha toda a informação e elabora o relatório de diagnóstico, com sugestões de medidas que a organização pode aplicar para melhorar.

“Muitas vezes, nas organizações, a avaliação é feita de forma segmentada, cada departamento faz a sua avaliação e falta uma relação entre estas variáveis”, explica Tania Gaspar, acrescentando: “Se queremos ambientes profissionais mais saudáveis temos de perceber o que mais contribui para ajudar a melhorar”.

Há adaptações que melhoram muito os resultados sem grandes custos extra. Por vezes basta ouvir as pessoas e envolvê-las para fazer a diferença no resultado final”, insiste a investigadora.

A intenção dos responsáveis pelo LABPATS é ter pronto em outubro um manual de boas práticas com as contribuições das organizações parceiras nesta iniciativa.

O LABPATS está aberto a novas entradas de outras organizações que pretendam avaliar o seu ambiente de trabalho, uma tarefa que é gratuita e que pode ser solicitada através do site do laboratório.