António Ramalho tinha dito, na apresentação de resultados anuais, que tinha um “compromisso total até 2024” com o Novo Banco, ou seja, até ao fim do mandato. Mas agora, após anunciar a saída, diz em entrevista ao Negócios que também tem “um compromisso de 39 anos com a família”. Ramalho recusa a ideia de que tenha saído desgastado pelas polémicas e atira: “a minha integridade profissional nunca foi posta em causa e não creio que alguma vez venha a ser”.

Porque é que sai antes de tempo? Ramalho diz que “a primeira razão é a condição que seria suficiente e necessária para que eu pudesse sair: foram cumpridos todos os compromissos exigidos no plano de reestruturação, assegurou-se a transformação da empresa, desenhou-se uma nova marca. O banco está preparado para dar resposta à economia”.

O banqueiro diz que essa condição era “necessária e suficiente”. Mas há outra razão: “Eu tinha um compromisso até 2024, mas também tenho um compromisso de 39 anos com a minha família. Portanto, acho um bom equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional de alguém que este ano faz 62 anos, que tem 36 anos de banca e 29 de gestão bancária ao nível da administração, anuncie uma saída com tempo, que permite uma transição adequada”.

As polémicas de Ramalho em seis (conturbados) anos à frente do Novo Banco

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sobre as polémicas com Luís Filipe Vieira, Ramalho defende que “a questão da operação Cartão Vermelho é uma questão judicial e a César o que é de César”. Já “em relação ao que é a atividade [do Novo Banco], esse é um escrutínio permanente que aceitamos que seja feito e estamos completamente confortáveis que o banco desempenhou as suas funções com integridade e de acordo com as melhores práticas de mercado”.

Sou muito prático nisto. Eu não falo nunca das questões de idoneidade porque acho que as questões de idoneidade são objetivas. E, portanto, os factos e a realidade sobrepõem-se sempre às opiniões e às insinuações”, diz Ramalho.

O gestor acrescenta que a sua “integridade profissional nunca foi posta em causa” e não crê “que alguma vez venha a ser. Porém, diz que “reconhece que inevitavelmente o escrutínio que era feito sobre o banco de vez em quando também fosse feito sobre as pessoas. Mas estamos cá para ser escrutinados”.

Escrutinados também pelo governador do Banco de Portugal, que em entrevista ao Observador disse que o Novo Banco teve tudo para não pedir mais dinheiro. “Repito o que já disse: à administração executiva cabia assegurar a reestruturação até 2020 e resultados positivos em 2021. Cumprimos religiosamente”, afirma Ramalho, acrescentado que “os acionistas em 2017 acordaram um mecanismo de capitalização da instituição. Também espero que esse mecanismo seja sempre cumprido religiosamente. Em relação às dúvidas que possam existir sobre o contrato, que eu não assinei, o próprio contrato tem mecanismos de disputa normais”.

Centeno em entrevista. Novo Banco “teve tudo para não pedir mais” dinheiro ao Estado, num ano em que teve quase 200 milhões em lucro