O ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, que se encontra em prisão domiciliária na sua casa em Braga por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais, fraude fiscal e participação económica em negócio, deu uma entrevista a um jornal local onde diz que a caução de seis milhões de euros que lhe permitiria pagar pela liberdade é “aberrante”. E que “nem por sombras [tem] dinheiro para pagar a caução”.
Numa entrevista que ocupa cinco páginas do jornal, o antigo governante começa a responder a perguntas sobre a sua família e, depois, pelo seu gosto pela Galiza. Só depois toca no processo que o levou a ficar preso naquela casa, onde entretanto lhe foram aprendidos documentos comprometedores, como o Observador noticiou esta semana. Pinho queixa-se do momento do processo em que ficou sujeito a esta medida de coação (em dezembro) e critica o valor estipulado pelo juiz de instrução para o reverter.
“Mas, se tivesse, ou seja, se eu fosse rico, por exemplo como um oligarca russo? Nesse caso, já seria diferente. Pagaria a caução, desaparecia o risco de fugir e estaria hoje a fazer a minha vida normal, quem sabe se não estaria a jogar golfe”, argumenta o ex-governante em declarações ao jornal Correio do Minho, relançando que “ao fim de 11 anos (…) se achou que havia o risco de fugir”.
Aos olhos de Manuel Pinho, a justiça chegou à “situação inimaginável em que alguém rico como um oligarca pode comprar a sua liberdade e quem não é muito rico, sujeita-se ao pior”.
O ex-ministro de José Sócrates admitiu sentir uma “grande revolta”, nomeadamente pelo envolvimento da mulher em todo o processo — que está obrigada a apresentar-se quinzenalmente — por estar envolvido num processo que “tem mais de uma década” e onde ainda não foi acusado nem julgado.
Na entrevista, Manuel Pinho sublinhou ainda que “a investigação diz respeito a factos ocorridos há mais de 15 anos e que a maioria das testemunhas ou já morreu, ou estão incapacitadas para testemunhar sobre seja o que for”. E, em resposta a uma pergunta, diz que sente admiração por Lula da Silva, que também enfrentou vários processos judiciais para depois ser libertado, podendo mesmo vir a ser novamente candidato à Presidência.