Um “recuo temporário” que conseguiu pôr termo à especulação sobre uma eventual saída a meio do mandato, mas que não chegou para arrumar um tema que promete voltar a pairar. “Se Costa quisesse matar o assunto da saída para Bruxelas tinha vindo a público“, sentencia Luís Marques Mendes, no final de uma semana marcada pela tomada de posse do novo Governo, e pelos avisos do Presidente.

“António Costa faz bem em matar esta especulação. Esta ideia de que quer ir para Bruxelas não é boa para ele”, sublinhou este domingo o comentador, no habitual espaço de comentário, no Jornal da Noite da SIC, lembrando como o primeiro-ministro não respondeu de imediato ao discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, com uma fonte próxima a garantir posteriormente que o primeiro-ministro ficaria no cargo até ao final do mandato. “Este assunto vai voltar daqui a dois anos“, acredita Mendes, afastando no entanto um cenário de azedume na relação entre São Bento e Belém. “No passado, já houve divergências e no futuro é normal que haja divergências.”

Mais relevante que qualquer especulação sobre o futuro de António Costa, cuja saída antecipada “dificilmente deixaria outra saída que não fosse eleições”, é o cenário económico do país, considera Marques Mendes. “Estamos na cauda da Europa. Este é que é o assunto nuclear e não é o assunto central no discurso. Devia estar a ser discutido permanentemente”, defende o ex-líder do PSD, admitindo a sua desilusão face ao conteúdo do discurso do primeiro-ministro na cerimónia da tomada de posse na passada terça-feira. “Falta ambição, e falta de rasgo no programa do Governo“.

Sobre a presidência da Assembleia da República, numa eleição que “foi mais ou menos o que se esperava”, destaca o discurso “lúcido, assertivo e com qualidade” de Augusto Santos Silva, que “está a começar uma espécie de tirocínio para poder ser candidato a presidente da Republica pelo Partido Socialista”. Uma palavra ainda para a falta de representatividade na mesa da Assembleia, onde surgem apenas dois dos oito partidos com lugar no hemiciclo, PS e PSD. “Isto é histórico, nunca aconteceu”, lamenta.

Num fim de semana marcado pelo congresso do CDS, de onde saiu um novo líder, o comentador destaca a “atitude corajosa” e “a tarefa muito difícil” de Nuno Melo, o senhor que se segue à frente dos destinos do partido, que conseguiu arrumar a casa antes do PSD. “Se Rui Rio não fosse teimoso, já tinha resolvido o problema. O PSD só vai ter líder daqui a três meses. Podia estar neste momento a eleger um líder”, critica. Nessa corrida à renovação da liderança, Luís Marques Mendes acredita que Luís Montenegro, que na próxima quarta-feira dará uma conferência na sede do partido a formalizar a sua candidatura, segue na frente, reunindo as “melhores condições para vencer”.

No plano internacional, Marques Mendes não terminou a sua intervenção sem uma nota sobre os mais recentes acontecimentos em Bucha, na Ucrânia, de onde chegaram este sábado e domingo ecos de um autêntico cenário de horror. “Um crime de guerra. São qualquer coisa de brutal, de inqualificável. É tão grave que justifica uma investigação independente imediata”.

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