A Universidade de São José (USJ) inscreveu este semestre os primeiros estudantes da China continental, mas o reitor Stephen Morgan garantiu que Pequim não impôs à instituição de Macau quaisquer condições à liberdade académica.

Em setembro, a USJ revelou ter recebido luz verde do Ministério da Educação chinês para receber alunos da China, numa fase experimental, para os programas de pós-graduação em Arquitetura, Administração Empresarial, Sistemas de Informação e Ciências.

“A autorização veio demasiado tarde para o nosso recrutamento no ano passado, mas este semestre já matriculámos três ou quatro estudantes [da China]”, disse à Lusa Stephen Morgan.

O reitor disse acreditar que a USJ não terá problemas em preencher a quota de 30 alunos para o ano letivo 2022/2023. “Provavelmente, poderíamos preenchê-la mesmo que fosse três vezes maior”, acrescentou.

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Stephen Morgan garantiu que o Ministério da Educação chinês não fez qualquer exigência à USJ, que era a única universidade de Macau sem autorização para receber estudantes da China, devido à ligação com a Igreja Católica.

O reitor admitiu, no entanto, que a instituição “garantiu” que os estudantes da China continental não poderão mudar para cursos de Estudos Religiosos nem serão “sujeitos a qualquer forma de doutrinação religiosa”.

Em 2014, a USJ despediu um professor de Ciência Política, Éric Sautedé, devido a comentários que fez sobre a política de Macau na imprensa local.

“A política é algo sensível nesta parte do mundo”, admitiu Stephen Morgan, que disse ainda que “Macau não tem uma cultura partidária realmente ativa”.

“Certamente que não estou interessado em importar para cá, por exemplo, algumas das tensões do outro lado da Grande Baía”, disse o reitor, referindo-se ao movimento pró-democracia em Hong Kong.

Tensões que “não têm lugar nesta universidade”, sublinhou Stephen Morgan. “A própria Igreja Católica “já não tem uma posição política ativa e eu acho que, em geral, isso é positivo”, disse.

Numa visita ao campus da USJ, em fevereiro, o diretor adjunto do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, Zheng Xincong, disse que a instituição devia reforçar o “patriotismo” dos estudantes.

“Os nossos alunos têm de entender que, independentemente dos 500 anos de presença portuguesa aqui, Macau é China”, disse Stephen Morgan. “Patriotismo não significa concordar com tudo o que o meu país faz, seja certo ou errado”, acrescentou.

O reitor da USJ disse acreditar que a autorização, válida por três anos, poderá ser alargada “para uma quota muito maior” em 2024, assim que o Ministério da Educação possa “avaliar a experiência” dos primeiros alunos.

A USJ foi criada em 1996 como uma instituição de ensino superior católica pela Universidade Católica Portuguesa e pela diocese de Macau, partilhando o espaço de 38.145 metros quadrados com o Colégio Diocesano de São José 6, num ‘campus’ que acolhe cerca de dois mil estudantes.