Depois de analisadas as mais recentes imagens de satélite, as autoridades do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) não encontraram nenhuma “deformação muito significativa no setor central da ilha de São Jorge”, por comparação com imagens obtidas duas semanas antes.

A informação foi adiantada em conferência de imprensa, esta segunda-feira, a partir de São Jorge, nos Açores. As autoridades indicam ainda que notaram “uma diminuição da frequência diária de sismos”.

No mais recente ponto de situação, feito já esta manhã, o CIVISA notava que ainda assim a atividade sísmica que se tem vindo a registar desde as 16h05 do dia 19 de março na parte central da ilha de São Jorge (“mais concretamente ao longo de uma faixa com direção WNW-ESE, num setor compreendido entre Velas e Fajã do Ouvidor”) continua “acima do normal”. Apesar disso, “o sismo mais energético ocorreu” já no dia “29 de março, às 21h56”, hora local, e teve magnitude 3,8 (Richter).

Até ao momento foram identificados mais de 200 sismos (cerca de 226) sentidos pela população. Entre as 22h de este domingo, 3 de abril, e as 10h de esta segunda-feira, 4 de abril, foi sentido um sismo.

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O Instituto Vulcanológico das Canárias (onde outra crise sísmica está a atingir a ilha de La Palma, três meses depois do fim da erupção vulcânica do Cumbre Vieja) tinha anunciado a 29 de março ter descoberto uma “deformação do solo compatível com uma fonte de natureza vulcânica” na ilha de São Jorge, após ter comparado as imagens de satélite do dia 17 de março — dois dias antes da crise sísmica em Velas — e as do dia 27.

Uma viagem às profundezas da Terra com os vulcanólogos que auscultam a crise sísmica em São Jorge

Segundo os vulcanólogos das Canárias, existia uma fratura vertical no subsolo (os cientistas chamam-lhe dique) e dentro dela tinham entrado 20 milhões de metros cúbicos de lava vindo do manto da Terra. Seria um volume comparável com o que existia na câmara magmática que alimentava o vulcão Cumbre Vieja nos dias anteriores à erupção de setembro do ano passado.

À época, Rui Marques, presidente do CIVISA, pedia cautela na interpretação dos dados recolhidos pelo satélite: a teoria é “fruto de uma modelação numérica”, não de dados recolhidos no terreno. Os vulcanólogos portugueses aguardavam a nova passagem do Sentinel-1, da Agência Espacial Europeia, para chegarem a resultados mais robustos.

É que, em terra firme, os cientistas instalaram quatro sensores na área afetada pela crise sísmica. “Há deformação vertical na ilha de São Jorge”, confirmava o cientista, mas até agora não era claro o impacto dela na situação que se vive desde 19 de março na ilha açoriana.

“Ou seja, em vez de estarmos a utilizar uma técnica indireta através de imagens de satélite, estamos a utilizar uma técnica direta que está colocada diretamente na ilha de São Jorge e que nos permite ter uma maior resolução da deformação”, comentava Rui Marques.