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Palácio Ludovice: a residência do arquiteto do rei que se transformou num hotel de luxo

Este artigo tem mais de 2 anos

Em tempos residência do arquiteto responsável pelo Convento de Mafra, o palacete sobreviveu ao terramoto de 1755 e ao passar do tempo. Agora, abre as portas de cara lavada e em formato hotel.

O Palácio Ludovice Wine Experience Hotel abriu ao público a 1 de abril
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O Palácio Ludovice Wine Experience Hotel abriu ao público a 1 de abril

© Divulgação

O Palácio Ludovice Wine Experience Hotel abriu ao público a 1 de abril

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As paredes forradas a azulejos seculares, meticulosamente recuperados, ajudam a contar a já longa história do Palácio Ludovice, no coração de Lisboa. Aquela que foi em tempos a morada do arquiteto do rei D. João V, de seu nome João Frederico Ludovice, é desde a semana passada um hotel de cinco estrelas. Foram precisos sensivelmente três anos de obras para o transformar de forma a acomodar 61 quartos de categorias diferentes e um restaurante sob uma claraboia quase invisível, iluminado por candeeiros caídos do céu e adornado por jardins verticais que trepam com vigor uma das paredes.

O mantra de Miguel Câncio Martins — arquiteto de projetos como Buddha Bar em Paris, Opium em Londres e o hotel Quinta da Comporta, e que agora detém o Ludovice juntamente com investidores estrangeiros —, foi recuperar tudo quanto era possível recuperar. Daí que os corrimões e as escadarias em mármore, os frisos, o tijolo de burro exposto, os azulejos centenários e os tetos de reboco tenham permanecido intactos, num jogo de tetris com a Direção Geral do Património Cultural: DGPC. Antes de quaisquer obras, foram feitos estudos históricos, ao nível da pintura, dos azulejos e da própria estrutura, e ainda de âmbito arqueológico — mesmo no final das escavações foi encontrado um dos esqueletos mais antigos de Lisboa, com 5 mil anos. Paredes tortas e corredores em “v”, que ao início parecem ser labirínticos, fazem parte do charme do antigo edifício que resistiu ao poderoso abalo de 1755, tornando-se, assim, um marco de inspiração para os edifícios pombalinos na reconstrução da cidade a mando do Marquês de Pombal.

Existem 61 quartos e suites de sete tipologias diferentes

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Noutras vidas, o palacete edificado no século XVIII, em 1747, acolheu uma escola, a polícia, o instituto português dedicado ao cinema, a Embaixada da Rússia e o Solar do Vinho do Porto. Numa referência ao passado mais recente, no wine hotel a ligação ao vinho é notória, seja nos tapetes que fazem lembrar vistas panorâmicas de vinhas, incluindo no hall de entrada, seja nos cocktails vínicos servidos no bar anexo ao restaurante cuja carta procura representar as diferentes regiões do país. Para breve estão equacionadas provas de vinho entre outros eventos temáticos. Existe inclusive uma loja do Instituto do Vinho e do Douro e do Porto (IVDP), com ligação ao exterior, sobretudo dedicada à promoção do néctar daquela região.

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Também a homenagem a João Frederico Ludovice é uma constante, a começar pelo retrato que resulta de uma fotografia impressa numa tela de metal de grandes proporções exposto na receção. Estávamos algures no século XVIII quando o arquiteto chegou a Portugal comissionado por D. João V para aí conceber o histórico Palácio Nacional de Mafra — segundo Miguel Câncio Martins, no agora hotel de cinco estrelas é provável que existam resquícios de materiais que não chegaram a integrar o convento. Ludovice é ainda um dos arquitetos responsáveis pelo Aqueduto das Águas Livres.

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A residência privada de Ludovice, cuja formação inicial era em ourivesaria, resultou no primeiro palacete a ocupar um quarteirão inteiro em Lisboa — uma parte do edifício no topo do elevador da Glória era habitação própria enquanto a outra era arrendada. Também o tom amarelo da fachada, virada para o miradouro de São Pedro de Alcântara e a meio caminho entre o Chiado e o Príncipe Real, foi mantido, ainda que Câncio Martins tenha por momentos equacionado uma tonalidade mais esverdeada. São cinco pisos que apresentam dimensões e alturas desiguais, sendo que o teto foi tornado habitável e a cave que alberga o ginásio foi acrescentada em obra — para a sua construção, o palacete teve de ficar suspenso, resultado de uma obra de engenharia surpreendente.

Praticamente toda a mobília, incluindo aquela visível nas zonas sociais, foi desenhada pelo atelier do arquiteto

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Existem sete tipologias de quartos (incluindo três suites) — do Cozy Room ao Ludovice Prestige —, que se dividem também em quatro temáticas definidas pelas cores: bege, azul, rosa e verde água. Em todos eles, a mobília desenhada pelo arquiteto e com produção portuguesa. Já as vistas, essas, variam: da janela ora se avizinha o jardim vertical que preenche o átrio interior ou, então, o bulício da cidade — ainda que o hotel esteja numa zona muito central, de janelas fechadas não há barulho que entre.

Entre as mais de 60 opções para pernoita há divisões com frescos originais restaurados, outros com painéis de azulejos pintados à mão e ainda com madeira trinchada nos tetos. Mais, duas antigas cozinhas comunitárias foram transformadas em quartos onde o conforto é quem mais ordena, e contam-se ainda grandes suites cuja estrutura permanece a original. Além das zonas sociais, onde não faltam tomadas, destaque também para a capela com símbolos maçónicos e inscrições hebraicas.

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O restaurante que leva o nome Federico ocupa o claustro assimétrico e surge debaixo da claraboia que permite uma ligação contínua ao exterior — olhar para cima é coisa que se faça por aqui, dado o jardim vertical e os candeeiros suspensos. E se ao pequeno-almoço há o tradicional buffet, também ao almoço e ao jantar o espaço está aberto ao exterior. Câncio Martins fala em gastronomia portuguesa revisitada com alguns apontamentos internacionais e muitos vinhos (sobretudo do Douro) a acompanhar. Na carta que se faz de pratos portugueses e franceses é possível encontrar uma chanfana típica, à moda de Coimbra, acompanhada de puré de batata trufado e espuma de grelos, mas ainda um presunto curado de 24 meses de um pequeno produtor que fornece, entre outros, o chef Alain Ducasse, e uma panna cotta de pêssego com gelado de colheita tardia.

Já o bar ocupa o lugar de um antigo cofre: o balcão com a prateleira vertical, também ele desenhado à medida, é a peça central que vai desembocar nos tetos de tijolo que cobrem as abóbadas — o pé direito altíssimo assim o pedia. A acompanhar, uma garrafeira vertical, embutida na parede. Ainda com ligação ao exterior é o caso do Caudalie Boutique-SPA, com duas salas onde é possível fazer tratamentos faciais e corporais inspirados nos protocolos de assinatura Vinothérapie da Caudalie.

Foi o primeiro palacete a ocupar um quarteirão inteiro em Lisboa

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Miguel Câncio Martins, responsável pela renovação do Palácio Ludovice Wine Experience Hotel em conjunto com Jacques Chahine, sempre quis ter um hotel em Lisboa, algo simbólico e representativo da cidade. Assim o fez sem mexer muito nas paredes, mantendo a traça e detalhes que o tempo ou as obras não conseguiram apagar.

Palácio Ludovice Wine Experience Hotel. Rua de São Pedro de Alcântara, 39-49, Lisboa. Tel.: 211 513 850. Quartos a partir de 220 euros e suites desde 420 euros a noite com pequeno-almoço.

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