O músico David Fonseca estreia na quinta-feira o primeiro episódio de um álbum visual, “Living Room Bohemian Apocalypse”, sobre os caminhos que levam à escrita de canções e que será editado a 10 de junho, contou à agência Lusa.

“Living Room Bohemian Apocalypse” é o novo álbum discográfico de David Fonseca, mas num formato em que conjuga, de raiz, música e imagem, construindo um objeto artístico que descreve como um álbum visual em sete episódios, a revelar ao longo nas próximas semanas, culminando na edição em junho.

“Todas as canções que eu faço são sempre pensadas com a parte visual, mas até agora nunca as fiz assim. Quando faço canções, elas já estão dentro de um certo espetro visual, mas por norma não tenho oportunidade para as mostrar às pessoas, porque não tenho tempo e dinheiro”, explicou.

A oportunidade surgiu ao longo do último ano, quando David Fonseca se viu forçado, tal como grande parte da classe artística, a parar por causa das medidas de confinamento para conter a pandemia da Covid-19.

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O primeiro episódio-canção deste álbum, “Chasing the light”, revela David Fonseca numa sala de estar, a fazer zapping no sofá, acabando por se embrenhar no que surge no ecrã.

O músico explica que é “uma metáfora muito direta à ideia da pandemia e ao confinamento”, que depois se vai multiplicando por imagens e ideias aparentemente desconexas, mas que representam os processos criativos do autor.

“Eu tenho uma procura pela criação, constante, aflitiva, e quis misturar tudo isso, quando uma pessoa escreve uma canção tudo isso está presente, tudo isso lá está. […] É a ideia do que fica por detrás da feitura de uma canção, o que é que me leva à canção. […] Queria mostrar como é esse meu mundo surrealista das ideias e como se transformam numa coisa abstrata”, descreveu.

David Fonseca explica que este álbum visual, no qual participam direta e indiretamente mais de 50 pessoas, também só foi possível com financiamento do programa Garantir Cultura, criado pelo Governo para apoiar o setor cultural em contexto pandémico.

“Seria totalmente impossível fazer este projeto sem ter tido o apoio do Garantir Cultura. Este projeto já estava escrito e tínhamos uma outra forma, mais singela, de o montar. Quando conseguimos o apoio, deu-me a oportunidade de fazer o que tinha em mente. O primeiro projeto não contemplava nem 10% das pessoas que contemplou”, disse.

Musicalmente, foi David Fonseca quem fez praticamente tudo no seu próprio estúdio, e na vertente visual tem o nome inscrito em quase todas as etapas de produção, escrita de argumento, realização, direção de fotografia e montagem.

O álbum é também o primeiro de David Fonseca em edição independente, já sem a Universal Music, da qual foi artista durante duas décadas.

“A decisão foi minha, porque queria experimentar outras coisas. Não estou insatisfeito, mas queria mudar e fazer uma coisa, pelo menos uma vez, diferente e perceber outros aspetos da indústria, que se calhar não percebo quando estou com uma editora tão grande como a Universal”, justificou.

David Fonseca enquadra a sua decisão numa postura “recorrente em todos os artistas que têm carreiras mais longas”, de querer experimentar outros caminhos: “O mercado [discográfico] é um sítio complexo para todos. Andamos todos a apalpar terreno e eu achei que era um passo de aprendizagem para mim”.

O último álbum de originais de David Fonseca data de 2018, quando lançou “Rádio Gemini”, com selo da Universal Music, e em 2020, já em plena pandemia, editou a música “You feel like home” e o álbum “Lost and Found — B Sides and Rarities”, arrumando as gavetas artísticas antes de entrar em “Living Room Bohemian Apocalypse”.

Nascido em Leiria em 1973, David Fonseca deu-se a conhecer na música através dos Silence 4, que se estrearam em 1998 com o álbum “Silence becomes it”.

Em 2023 completará vinte anos desde que lançou o primeiro álbum a solo, “Sing me something new”, seguindo-se outros seis discos de originais, um álbum ao vivo, um tributo a David Bowie e várias edições de canções de Natal.

David Fonseca integrou o coletivo Humanos, tem composto para outros artistas, como Sérgio Godinho e Marco Rodrigues, e em 2012 deu expressão a outra das facetas artísticas, ao editar o livro de fotografia “Right here, right now”.

Em junho, juntamente com a edição de “Living Room Bohemian Apocalipse”, David Fonseca iniciará uma digressão de verão pelo país.