Em Cosnita, Moldávia, a poucos quilómetros da Transnístria, um território autónomo prórrusso com tropas de Moscovo, uma dezena de mães aguarda apenas pela paz para regressar à Ucrânia e rejeitam a possibilidade de viver em permanência fora do seu país.

“Sou primeiro mãe, mas sou ucraniana. A minha vida é lá, não é noutro sítio. É com o meu marido e a ver a minha terra”, diz Lena, 26 anos, que fugiu de perto de Sumy, no extremo norte da Ucrânia e hoje está na Moldávia, com o filho.

As famílias vivem em camaratas no campo de refugiados de Cosnita, um antigo centro de férias para jovens, que tem hoje ainda uma centena de pessoas à espera do fim da guerra.

“Temos muita gente que não quer ser refugiada, quer ficar e regressar logo de seja possível“, diz Albina Bulat, a diretora do centro.

Por isso, todos os dias, os alunos frequentam as aulas “online” do Ministério da Educação ucraniano, que, após a invasão russa, repôs o modelo utilizado durante os confinamentos por causa da pandemia de Covid-19.

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Evgeniy, 11 anos, de Chorromorsk (no leste), fez anos e ao seu lado juntaram-se os novos amigos, vindos de sítios tão diferentes como Zaporijia (sul), Kiev, Odessa (sudoeste) Kharkiv (nordeste) ou Chernigov (norte).

Ao lado de Evgeniy, Timosha, 8 anos, mostra-se entusiasmado quando percebe que a Agência Lusa tem sede em Portugal. Equipado com o 7 do uniforme da seleção portuguesa, Timosha quer posar para a foto a celebrar o golo como o seu ídolo. “Siiiiim!”, diz num português muito imperfeito, a tentar imitar Cristiano Ronaldo.

Introvertido, Evgeniy não quer falar muito e diz só que quer ser médico. Mas a mãe, Nathalia, está orgulhosa do modo como decorreu a festa apesar da guerra. “Ele é um bom menino, passámos por muito, vamos suportar as coisas e vamos regressar”, diz em inglês Nathalia, que volta a falar rapidamente em russo, como que a tentar explicar o que é ser mãe num momento como este.

Em inglês, Lena tenta ajudar. “Somos mães e temos de fazer tudo pelos nossos. Queremos viver num país livre, no nosso país, em liberdade”.

Considera que o conflito fez crescer em poucos dias uma geração inteira de ucranianos. “Pelo menos esta guerra ensinou aos nossos filhos a não tomarem as coisas como certas”, diz.

Apesar da destruição e da violência, Lena quer um acordo entre as partes. “Toda a guerra termina com negociações de paz”, admite.