Os trabalhadores da EDP, em greve para reivindicar mais 70 euros de salário, concentraram-se esta manhã em frente à sede da empresa, em Lisboa, enquanto os acionistas do grupo estavam reunidos para aprovar o pagamento de dividendos.

A concentração em frente da sede da empresa teve como objetivo exigir da administração da EDP a valorização dos salários e protestar contra a proposta da administração de 0,8% de aumento salarial, considerada uma “afronta” pelo coordenador da Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas (Fiequimetal), Rogério Silva.

“Consideramos 0,8% uma afronta, tendo em conta que os lucros foram 850 milhões de euros”, afirmou o sindicalista, durante a manifestação de trabalhadores, explicando que a empresa se preparava, esta quarta-feira, para distribuir aos acionistas 700 milhões de euros de dividendos, na assembleia-geral.

No Conselho de Administração da EDP, no ano passado, cinco pessoas auferiram 10 milhões de euros, disse, acrescentando que “o ex-administrador da EDP António Mexia irá auferir dois milhões de euros, enquanto os trabalhadores têm em cima da mesa um valor que é absolutamente miserável”.

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Rogério Silva precisou que “representa 7,5 milhões de euros” esta proposta de aumento dos sindicatos, para abranger pouco mais de 5.000 trabalhadores, traduzindo-se em cerca de 90 euros de aumento.

“Mas na última reunião [com a administração da EDP] fizemos uma proposta inferior, de 70 euros”, informou Rogério Silva, questionando: “Se a EDP não está ao alcance de satisfazer este interesse dos trabalhadores, esta necessidade de fazer face ao aumento do custo de vida, de servir como exemplo para todas as empresas da indústria, de valorização profissional e das carreiras, então quem estará em condições de o fazer?”.

O sindicalista disse ainda que o Conselho de Administração da EDP “tem salários ofensivos” e lembrou que foi a maioria dos trabalhadores que contribui para a criação da riqueza na empresa, mas “são tratados desta forma desprezível”.

O representante da federação explicou ainda que a rejeição da EDP à reivindicação de aumento salarial proposta pelos sindicatos tem sido explicada, primeiro, com a pandemia de covid-19 e, agora, com a guerra na Ucrânia, e lembrou que a empresa já anunciou que vai aumentar 3% na fatura e que, por isso, os sindicatos têm pedido a intervenção do Governo, por considerarem “imorais” os salários do Conselho de Administração face ao dos trabalhadores da empresa.

“Temos reunião esta tarde, esperemos que não seja a última, para reiterar a nossa proposta de 70 euros para aumento salarial e estamos disponíveis para alcançar um acordo”, concluiu.

Sobre a greve desta quarta-feira, a federação diz estar a ter adesão “bastante expressiva”, mas ressalvando que não é possível avançar com percentagens numa empresa com a dimensão da EDP, e salientando que “parte significativa” dos jovens trabalhadores da EDP aderiram ao protesto.

“A greve é sempre a última forma de luta, mas foi a administração da EDP que nos empurrou para este cenário e não nos deixou alternativa”, justificou.