A Ucrânia está a utilizar o software norte-americano de reconhecimento facial Clearview AI para identificar soldados russos que morreram na guerra que começou a 24 de fevereiro e também para conseguir encontrar os familiares dos mesmos.

O vice primeiro-ministro ucraniano, Mykhailo Fedorov, que também tem a tutela da Transição Digital, explicou à Reuters que o sistema permite localizar as contas de redes sociais dos combatentes. Um trabalho que também tem como objetivo combater aquilo que Kiev considera serem estratégias de desinformação da Rússia – Moscovo apresenta um número baixo de mortes no contingente militar enviado por Putin para a Ucrânia.

Como cortesia para as mães dos soldados, estamos a espalhar a informação através das redes sociais para pelo menos assegurar que as famílias saibam que perderam os seus filhos. E para permitir que venham recolher os seus corpos”, explicou Mykhailo Fedorov, de acordo com o The Guardian.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o diretor executivo da Clearview AI, Hoan Ton-That, enviou uma carta a Kiev a oferecer os serviços da empresa. Segundo uma cópia da missiva consultada pela Reuters, era ainda dada a garantia que a Rússia não iria receber qualquer proposta de auxílio.

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O uso do software pelo ministério da Defesa da Ucrânia começou a 12 de março, segundo a Reuters, tendo a empresa de reconhecimento facial cedido a sua aplicação a Kiev sem qualquer custo associado. A aplicação pode igualmente ser utilizada para identificar pessoas em postos de controlo no país ou para reunir refugiados e deslocados internos do país com os seus familiares.

O banco de dados deste software inclui mais de dez mil milhões de fotos, das quais cerca de dois mil milhões foram extraídas da rede social russa Vkontakte.

O sistema é polémico e nos EUA, por exemplo, há vários processos pendentes em tribunal que contestam a sua utilização pelas forças de segurança norte-americanas. No mês passado, a empresa foi multada em 20 milhões de euros pelo Ministério Público italiano por violar as regras de privacidade do  consumidor da União Europeia, tendo sido igualmente ordenado que a companhia elimine os dados referentes a cidadãos italianos. Também o Reino Unido e França exigiram que a empresa eliminasse os dados referentes aos seus cidadãos, conta o The Guardian.

Na Ucrânia, embora o recurso ao software seja, segundo defende a empresa, apenas um “ponto inicial para outras investigações“, o seu uso pode levar a erros que resultem na morte de civis ou em detenções incorretas, declarou à Reuters Albert Fox Cahn, diretor do Projeto de Observação de Tecnologia de Vigilância, em Nova Iorque, defendendo: “vamos começar a assistir a tecnologia bem intencionada a subverter-se e a danificar as mesmas pessoas que era suposto ajudar”.