O ultranacionalista sérvio Vojislav Seselj, condenado por crimes de guerra, vai abandonar a liderança do Partido Radical Sérvio (SRS), após falhar pela segunda vez no domingo a tentativa de ser eleito para o parlamento de Belgrado.

“Em novas eleições é provável que um novo presidente lidere o partido. Não me sinto bem e, além disso, fui rejeitado pelo povo sérvio em duas ocasiões e entendo-o como a hora de me retirar”, disse esta sexta-feira Seselj, de67 anos, ao portal digital Alo.

Nas eleições legislativas de 3 de abril, o SRS obteve 2,2% dos votos e não conseguiu entrar no parlamento, à semelhança do sucedido no escrutínio de 2020.

O SRS foi um dos partidos mais votados na década de 1990, assinalada pelas guerras na antigo Jugoslávia, mas a sua popularidade decaiu entre o eleitorado, em particular após uma cisão interna em 2008 que deu origem ao Partido Progressivo Sérvio (SNS, conservador e nacionalista), do atual Presidente, Aleksander Vucic, e que nos últimos anos tem dominado a vida política interna do país dos Balcãs.

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No decurso da “guerra do Kosovo”, que implicou uma intervenção da NATO contra a Jugoslávia (Sérvia e Montenegro), Seselj ocupou entre 1998 e 2000 o cargo de vice-primeiro-ministro da Sérvia durante a liderança de Slobodan Milosevic e apresentou-se por várias vezes às presidenciais, mas a partir de 2012 o SRS entrou em declínio e ficou em definitivo fora do parlamento.

Seselj foi condenado em 2018 pelo Mecanismo para os Tribunais Penais Internacionais (MICT) a dez anos de prisão por crimes contra a humanidade, perseguição por motivos políticos, raciais ou religiosos e expulsão de milhares de croatas e de bonsíacos (muçulmanos) durante a guerra na Croácia no início da década de 1990.

No entanto, não regressou à prisão pelo facto de já ter cumprido a pena durante o período em que esteve detido nas celas do Tribunal de Haia (Países Baixos), entre 2003 e 2014, aguardando julgamento.

Nesse período, escreveu um livro muito crítico e dirigido ao então secretário-geral da NATO, Javier Solana, e cumpriu uma greve de fome de 28 dias após o já extinto Tribunal Penal Internacional para a Jugoslávia (TPIJ) lhe ter negado o direito de escolher a sua defesa. Por fim, foi autorizado a apresentar a sua própria defesa. Em dezembro de 2013, ainda sob detenção, foi operado a um cancro no cólon.

Natural de Sarajevo, doutorado em Direito, Seselj sempre se opôs à entrada da Sérvia na União Europeia e defende o reforço das relações com a Rússia, com que o país balcânico mantém prolongados laços históricos.