771kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Tony Hawk: um skate para a salvação

Este artigo tem mais de 1 ano

O novo documentário da HBO Max conta a história do maior skater de todos os tempos e de uma geração de cotas que continuam a ser putos. O skate é um escape e Tony Hawk o seu profeta.

Hawk teve de passar uns primeiros anos de provações e testes, desprezado pelos pares e pelo público, até os superar e demonstrar o verdadeiro dom que o mantém de pé até hoje: a determinação
i

Hawk teve de passar uns primeiros anos de provações e testes, desprezado pelos pares e pelo público, até os superar e demonstrar o verdadeiro dom que o mantém de pé até hoje: a determinação

Hawk teve de passar uns primeiros anos de provações e testes, desprezado pelos pares e pelo público, até os superar e demonstrar o verdadeiro dom que o mantém de pé até hoje: a determinação

Se o meu cóccix soubesse teclar, entregava-lhe a tarefa de redigir este texto – afinal, teve experiências muito mais intensas com o skate do que eu, consciência de mim, que praticamente apaguei da memória esses momentos em que a adolescência (e uma ou outra incursão na idade adulta, as únicas verdadeiramente embaraçosas) ousou desafiar as leis da gravidade. A HBO Max estreou “Tony Hawk – Até as Rodas Saltarem Fora”, mais um volume para a coleção de elegias documentais sobre os heróis do desporto, e, a menos que se seja um grande adepto de skateboarding, todo o nosso interesse se restringe desde o primeiro minuto à perplexidade perante o mesmo fenómeno da física: mas como – como – é que eles fazem aquele truque de se aguentarem mais de dois segundos em cima do skate?

“Tony Hawk – Até as Rodas Saltarem Fora” é feito exatamente dos componentes que seria de esperar no género: entrevistas com o próprio, com os pares e família, algumas imagens de arquivo dos tempos iniciáticos e imberbes nos idos de 70 e 80, alguns momentos dramáticos de perda ou queda que o documentário se esforça por descobrir para que aquelas (excessivas) duas horas e pouco não sejam completamente flat (o que seria simultaneamente uma chatice para os skaters e uma aventura épica para o meu cóccix). Seguimos a história do maior skateboarder de sempre, um californiano de um metro e 91, magro como uma colher de pau, que atravessou 40 anos em cima da prancha e permanece, muitas vitórias, casamentos, ossos partidos e mais de 100 truques inventados depois, no ativo. Vimo-lo ainda há bem pouco tempo nos Óscares, ao lado de Kelly Slater (surfista, 50 anos) e Shaun White (snowboarder, 35 – um puto), lançando a homenagem a James Bond nos 65 anos do franchise – afinal, alguém por quem, como eles, tempo e quedas parecem não passar.

[o trailer de “Tony Hawk – Até as Rodas Saltarem Fora”:]

Mas há dois fatores humanos a salvar o documentário realizado por Sam Jones de ser apenas uma sucessão de truques (os 540, os 720 e o mítico 900 que, depois de muita acrobacia mental, lá percebemos serem voltas sobre si mesmo medidas em graus: 1,5 vezes, duas vezes, 2,5 vezes) sucessivamente tentados, falhados e conseguidos, pelos skate parks dessa América e, pontualmente, do mundo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O primeiro está na “origin story” de Hawk (só o nome, todo um programa): nascido como o filho muito tardio de uns pais mais velhos, distante dos irmãos, tratado como “um erro”, um descuido com o qual já ninguém contava. Associado à sua figura física peculiar e, à partida, totalmente inesperada para um desportista, alimentou um inadaptado que só encontrou o seu lugar no mundo quando descobriu o skate. Mesmo assim, longe de ser um predestinado (não se trata de uma daquelas histórias em que descobrimos, por fim, a nossa vocação, aquilo em que nascemos secreta e inatamente bons, por decisão de um deus que se diverte em ver-nos chegar a descobrir ou não quem somos), Hawk teve de passar uns primeiros anos de provações e testes, desprezado pelos pares e pelo público, até os superar e demonstrar o verdadeiro dom que o mantém de pé até hoje: a determinação.

“No skate, encontrei o meu propósito e a minha salvação”, diz Tony, já perto do fim. Uma lição para os mais desiludidos e perdidos de nós

O segundo é o desfile de Peter Pans que constitui a sucessão de skaters entrevistados. Lendas do seu tempo e na sua modalidade, é como se a prancha que trazem debaixo dos pés acarretasse um qualquer efeito delirante de retrato de Dorian Gray, dando-lhes e, ao mesmo tempo, sugando-lhes a juventude. Crianças de 50 anos, vestidas como tal, gesticulando como tal, falando como tal, porventura sentindo e vivendo como tal. Com a mesma admirável paixão, a mesma singular falta de sentido de finalidade, num anacronismo qualquer a quem só os corpos envelhecidos traem com o absurdo da passagem do tempo e da vida.

Mesmo vindo do outro lado do grande pátio das coisas, é impossível não admirar a sua dimensão de bailarinos. E, em sentido mais profundo, reconhecer como aquele objeto aparentemente tão pueril, afinal, também pode salvar (além do mais, há uma boa banda sonora com XTC, Clash ou Pavement para ouvir). “No skate, encontrei o meu propósito e a minha salvação”, diz Tony, já perto do fim. Uma lição para os mais desiludidos e perdidos de nós: não são obrigatórios deuses nem amores nem missões para se encontrar o sentido da vida; ele pode estar em qualquer coisa. Até numa pequena prancha de quatro rodas.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver oferta

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.
Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos