Charles Leclerc e Max Verstappen dividiram os dois primeiros Grandes Prémios da temporada, com o monegasco a ganhar no Bahrain e o neerlandês a ganhar na Arábia Saudita. Este domingo, na Austrália, era tempo de desempatar: até porque os dois pilotos partilhavam a primeira linha da grelha de partida.

Ora, na qualificação, Leclerc levou a melhor e conquistou a pole-position já nos últimos instantes e com uma diferença de três décimas para Verstappen. Seguiram-se Sergio Pérez e Lando Norris, com a Mercedes a não ir além da terceira linha e do quinto lugar de Lewis Hamilton e o sexto de George Russell. Esta foi a primeira vez desde 2013, nos últimos nove anos, que Hamilton não conseguiu a pole em Albert Park — e o piloto inglês não poupou as palavras na hora de atribuir as culpas ao carro.

“Diria que esta é a pior era de um carro que já conduzi. Pilotar é um verdadeiro desafio, o carro parece uma cascavel. Mas temos uma boa luta à frente do pelotão e o pódio é possível, quem sabe? Vou lutar o máximo que puder e sair da linha o melhor que puder. Eu e o George tentámos coisas um pouco diferentes com os carros no fim de semana e espero que tenha sido uma boa aprendizagem para a equipa levar para a corrida”, defendeu Hamilton, utilizando a metáfora da cascavel para explicar as consequências do chamado porpoising, o aumento e consequente diminuição abrupta da downforce que faz com que os carros “saltem” em pista, algo que estava a acontecer em larga escala na Austrália e que afetava sobretudo a Ferrari.

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Na antecâmara do Grande Prémio, a FIA anunciou novidades: este sábado, o organismo decretou oficialmente que os pilotos estão proibidos de ficar lado a lado durante as relargadas após safety-car. Numa medida que parece claramente dedicada a Max Verstappen, que fez isso mesmo em Abu Dhabi, no polémico último GP do ano passado, e já nas duas primeiras corridas de 2022, a FIA fechou finalmente aquela que era uma zona cinzenta do regulamento — e que motivou precisamente o protesto da Mercedes, em dezembro, na sequência da conquista do Campeonato do Mundo por parte da Red Bull.

Regras à parte, já em pista, Charles Leclerc e Max Verstappen arrancaram ambos bastante bem e o monegasco não deixou fugir a liderança. Mais atrás, Lewis Hamilton também deixou uma demonstração de força desde o início e saltou para o terceiro lugar — ao contrário de Carlos Sainz, que afundou por completo na classificação. O destino do piloto espanhol não iria melhorar e, na volta 3, o Ferrari acabou mesmo por despistar-se e ficar de fora do Grande Prémio, motivando o primeiro momento de safety-car. Na relargada, com Verstappen a cumprir as novas regras, Leclerc segurou o primeiro lugar, enquanto que Pérez reconquistou a terceira posição a Hamilton pouco depois e os McLaren iam surpreendendo, estando colados aos Mercedes.

Verstappen foi o primeiro dos da frente a parar, montando pneus duros e regressando em 7.º e à frente de Pierre Gasly e Fernando Alonso, e beneficiou das paragens dos McLaren para escalar a classificação e voltar ao segundo lugar. Neste período, a sorte grande caiu para George Russell: o piloto da Mercedes estava nas boxes quando Sebastian Vettel não evitou um despiste e saiu do pitlane já em pleno safety-car, aproveitando para saltar para o terceiro lugar numa altura em que, entre paragens, Alonso era quarto. No recomeço, nada se alterou.

Tudo se manteve praticamente inalterado nas voltas seguintes, tirando a natural ultrapassagem de Pérez, Hamilton e Norris a Alonso, até que Max Verstappen protagonizou a grande surpresa do Grande Prémio. De forma surpreendente, o piloto neerlandês encostou o Red Bull, indicou à equipa que sentiu um cheiro estranho e que o carro deixou de funcionar e os bombeiros foram mesmo chamados a intervir de forma instantânea devido ao fumo que saía do monolugar. De um momento para o outro, Verstappen estava fora, Leclerc tinha a vitória teoricamente confirmada, Pérez tinha tudo para carimbar o segundo lugar e a Mercedes parecia mesmo lançada para assegurar um pódio em Albert Park.

Até ao fim, já pouco se alterou. Charles Leclerc confirmou a segunda vitória do ano — e ficou com o ponto extra da volta mais rápida –, Sergio Pérez não deixou fugir o segundo lugar para a Red Bull e George Russell assegurou o pódio para a Mercedes (e o primeiro a título pessoal pela equipa), com Lewis Hamilton a ficar na quarta posição. O monegasco da Ferrari beneficia assim dos abandonos de Carlos Sainz e Max Verstappen e abre um fosso na liderança da classificação geral do Mundial de Fórmula 1, tendo agora mais 46 pontos do que o neerlandês que é ainda o campeão do mundo. E nem os saltos do porpoising conseguem parar Leclerc, que alcançou a primeira vitória Grand Slam da carreira: pole-position, primeiro lugar e volta mais rápida.