Ficou conhecida por mostrar um cartaz que denunciava a guerra na Ucrânia em direto na televisão estatal russa, incidente que a levou a apresentar a demissão. Agora, Marina Ovsyannikova, ex-jornalista e ex-produtora do Chanel 1, tem um novo emprego. O jornal alemão Die Welt decidiu, esta segunda-feira, contratá-la enquanto correspondente freelancer. 

O chefe de redação do jornal, Ulf Poschardt, justificou a contratação da jornalista russa com a postura demonstrada naquele momento. “Teve coragem num momento decisivo”, para que os espetadores na Rússia pudessem ter “uma imagem sem floreados da realidade”. Além disso, o responsável indicou que Marina Ovsyannikova “defende importantes valores jornalísticos”, apesar de a Rússia viver sob uma atmosfera de “repressão estatal”. “Estou entusiasmado pelo trabalho que vamos desenvolver.”

Por sua vez, Marina Ovsyannikova elogiou o órgão de comunicação para o qual vai trabalhar, referindo a cobertura que tem feito do conflito: “Defende o que muitas pessoas corajosas na Ucrânia estão a lutar: a liberdade”. “Vejo como meu dever enquanto jornalista defender essa liberdade. Satisfaz-me bastante fazer isso agora para o Die Welt.”

No momento em que interrompeu o notícia do Chanel 1, Marina Ovsyannikova tinha um cartaz com a mensagem “parem a guerra. Não acreditem na propaganda. Aqui, estão-vos a mentir” inscrita. Após alguns segundos no ar, a jornalista terá sido levada para uma sala do canal de televisão estatal, onde foi depois detida pelas autoridades russas, que a levaram para local incerto.

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Interrogada durante mais de 14 horas, Marina Ovsyannikova foi obrigada a pagar uma multa de 20 mil rublos (cerca de 238 euros) pela publicação de um vídeo nas redes sociais em que apelava a que os russos saíssem à rua para protestar contra a guerra.

Rússia acusa jornalista que se manifestou com cartaz de ser “espiã britânica”. Reino Unido nega e diz ser “desinformação”

O Kremlin acusou a jornalista de ser uma “espiã britânica”, tendo “traído” a Rússia de forma “fria” por um “bónus” financeiro. Os serviços secretos britânicos negaram que alguma vez Marina Ovsyannikova tenha trabalhado para os mesmos: “Está é outra mentira propagada pela máquina de desinformação russa”.

Os meios de comunicação sociais russos estão sob forte repressão, não podendo dar uma versão diferente daquela que é concertada pelo Kremlin do conflito que ocorre na Ucrânia.