A ativista social Graça Machel defendeu, esta segunda-feira, a posição de Moçambique de se abster na votação da resolução da ONU de condenação da invasão russa da Ucrânia, assinalando que os interesses soberanos do país africano devem ser respeitados.

“O governo está a fazer muito bem em abster-se nesta votação, há muitas outras questões que estão por detrás daquilo que levou a este conflito, que não estão sendo postas em cima da mesa”, afirmou Machel, em declarações aos jornalistas.

A ativista falava à margem de um evento da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), uma organização não-governamental (ONG) a que preside.

Moçambique, prosseguiu, deve posicionar-se em função dos seus interesses, a cada momento, porque é um país soberano.

“Nós estamos a ser forçados a tomar ou um ou outro lado, o que nós estamos a dizer é que nós não tomamos nem um nem outro [lado], enquanto os interesses que estão por detrás e que levaram a este conflito não forem muito claros”, declarou.

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Graça Machel frisou que a postura de Moçambique em relação ao conflito Rússia-Ucrânia é coerente com o seu passado de pertença ao defunto movimento dos países não-alinhados, como eram conhecidas as nações que primavam pela neutralidade durante a guerra-fria entre o Ocidente e o extingo bloco comunista.

“Eu aqui tenho saudades daquele tempo em que nós tínhamos o movimento dos não-alinhados, se houvesse liderança pujante era importante reativar aquele movimento dos não-alinhados”, enfatizou.

O primeiro marido de Graça Machel, Samora Machel, era um marxista-leninista assumido e foi Presidente de Moçambique, numa altura de cooperação mais estreita entre o país africano e Moscovo, durante os tempos da URSS e do bloco comunista.

Embaixadores de países ocidentes têm manifestado publicamente descontentamento com a abstenção do governo moçambicano na votação da resolução da Assembleia-Geral que condena a invasão russa da Ucrânia, com diplomatas norte-americanos e europeus a lembrar a Maputo que os seus países canalizam muito apoio à nação africana, no âmbito da cooperação para o desenvolvimento, o que é considerado chantagem pelas autoridades moçambicanas.