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"Minx". Entre revistas feministas e homens nus, há uma série à espera de ser um culto

Este artigo tem mais de 1 ano

Numa altura em que as estreias nos serviços de streaming se atropelam umas às outras, “Minx”, a história de uma revista erótica feminista nos anos 70 na HBO Max, tem originalidade, graça e coração.

Jake Johnson é Doug; Ophelia Lovibond é Joyce; juntos protagonizam "Minx" e criam uma dupla que merece todo o nosso tempo e a nossa atenção
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Jake Johnson é Doug; Ophelia Lovibond é Joyce; juntos protagonizam "Minx" e criam uma dupla que merece todo o nosso tempo e a nossa atenção

Jake Johnson é Doug; Ophelia Lovibond é Joyce; juntos protagonizam "Minx" e criam uma dupla que merece todo o nosso tempo e a nossa atenção

Nos idos de 1999, reta final do século passado, a RTP estreava uma série de comédia com Alexandra Lencastre e João Lagarto chamada “Não És Homem, Não És Nada”. Nesta relíquia, já com honras de RTP Memória, um grupo de homens liderado por uma mulher tem de escrever uma revista feminina, mesmo estando a anos-luz do que interessa de facto ao seu público-alvo. Em 2022, a HBO Max traz uma versão mais coesa deste conceito: e se, para lançar uma revista de libertação feminista, uma mulher tivesse de ceder a ter como sócio um homem da indústria das revistas eróticas?

Em “Minx”, estamos na Los Angeles dos anos 70, entalada entre os resquícios do amor livre e a ascensão de Nixon. Joyce (a britânica Ophelia Lovibond, de “Feel Good” e “Trying”, sem nunca se deixar deslizar para o seu sotaque original) é uma jornalista séria, empenhada em lançar uma publicação altamente intelectualizada sobre o feminismo e o novo papel da Mulher numa sociedade em ebulição. Porém, a sua visão hermética e — convenhamos — o seu feitio difícil, aos quais se adicionam o machismo vigente do meio na altura, deixam-na sem sócios à vista. Isto até Doug (Jake Johnson, de “New Girl”), o descarado publisher da Bottom Dollar, aceitar o desafio, mas com uma condição: tal como as suas outras publicações, também esta tem de contemplar largas doses de epiderme à vista (vulgo: nudez frontal). Só que, desta vez, serão os homens a estar sem roupa e em poses sexy, explorando o desejo feminino de um modo até aqui nunca feito. E esses homens surgem despudoradamente na série, com um rácio de pénis por minuto merecedor de nota.

[o trailer de “Minx”:]

Claro que ambos querem coisas diferentes para a revista. Joyce, que originalmente insiste em chamar à publicação “The Matriarchy Awakens” (“O Matriarcado Acorda”); sonha acordada com a aprovação entusiasta da ativista Gloria Steinem. Já Doug acredita que há espaço para uma revista para mulheres que as trate mais como loucas na cama (e na sala de reuniões, pronto) do que como ladies na mesa, mas esta terá forçosamente de ser um sucesso mainstream com uma boa polémica à mistura. O resultado é então uma revista chamada “Minx”, que traduzido à letra para português dá algo como Moça Atrevida ou o termo infelizmente reformado Sirigaita.

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Um dos méritos de “Minx” é conseguir que esta dupla não soe forçada. O “odd couple” é um dos mecanismos clássicos de escrita de comédia, uma parelha inusitada por serem opostos polares (pense-se, por exemplo, no clássico Bucha e Estica ou no Palhaço Rico e o Palhaço Pobre). E, exatamente por constituir um clássico, soa várias vezes a cansado e coagido na narrativa. Mas em “Minx” Joyce e Doug são uma dupla com as divergências e as aproximações no sítio certo, resultando daí uma cumplicidade que mesmo assim não se imiscui de fazer a história andar para a frente. As personagens são, aliás, um dos pontos fortes de “Minx”, mesmo as secundárias, como a irmã dona-de-casa da protagonista ou a ex-modelo erótica feita editora.

Outra frescura trazida à relação entre os protagonistas é que Ellen Rapoport, a criadora da série, garante que Joyce e Doug nunca vão ser um casal. Rapoport (que ainda tem um CV escasso e pouco coeso, no qual se conta o guião de “Clifford the Big Red Dog”, um filme infantil atualmente nos cinemas) considera que a relação profissional entre aquela mulher e aquele homem é uma tela muito mais rica do que a do romance. Isto permite, de modo muito percetível ao longo dos episódios, que “Minx” saia do espartilho das comédias românticas para abordar outros ângulos mais interessantes e menos mastigados.

“Minx” tem tudo para se tornar um daqueles sucessos de culto que andam devagarinho, cortesia das recomendações boca a boca (ou rede social a rede social) e não de nomes muito sonantes ou uma campanha de marketing voraz

Num total de 10 episódios (apesar do sucesso junto de crítica e público, ainda não há novidades de uma segunda temporada), “Minx” faz um retrato de uns Estados Unidos em avanços e recuos no que diz respeito aos direitos das mulheres. Por um lado, as conquistas recentes dos anos 60; por outro, uma administração conservadora que pretende dar alguns passos atrás nesse percurso. Aqui é usada a figura da vereadora Bridget Westbury (Amy Landecker, de “Transparent” e “Your Honor”), determinada a fazer a vida negra à Bottom Dollar. E talvez entre 1972 e 2022 a diferença não seja assim tão avassaladora.

“Minx” tem tudo para se tornar um daqueles sucessos de culto que andam devagarinho, cortesia das recomendações boca a boca (ou rede social a rede social) e não de nomes muito sonantes ou uma campanha de marketing voraz. Numa altura em que a catadupa de estreias nos serviços de streaming é tão sôfrega que as séries se atropelam umas às outras pela nossa atenção, “Minx” tem originalidade, graça e coração suficientes para passar à frente daqueles hits mais óbvios que afinal são um bocado ressequidos.

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