“Omnipotent”, “Downloading”, “Shiza” ou “Kevin Maradona”. Estes eram os nomes pelos quais Diogo Santos Coelho se identificava na plataforma de compra e venda de dados hackeados que ele próprio terá criado. Com cerca de meio milhão de utilizadores, a plataforma chamava-se “RaidForums” e foi desmantelada numa operação — que foi o culminar de um ano de investigação — em que estiveram envolvidas autoridades de cinco países: Estados Unidos, Reino Unido, Suécia, Roménia e Portugal.

A operação batizada de “Torniquete” e coordenada pela Europol concluiu que entre as informações vendidas havia bancos de dados de várias empresas norte-americanas que tinham sido alvo de ciberataques, mas também dados sobre cartões de crédito, número de contas bancárias, credenciais de acesso ou senhas e nomes de utilizadores. “Esta plataforma construiu o seu nome vendendo o acesso a bancos de dados vazados, muito mediatizados, de várias empresas norte-americanas em diferentes setores”, acrescentaram as autoridades policiais europeias.

O alerta do Departamento de Justiça dos EUA, do FBI e dos Serviços Secretos norte-americanos que agora aparece no fórum desmantelado

O alegado líder da rede criminosa — apelidada de “um dos maiores fóruns de hackers do mundo” pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos — é um português. Chama-se Diogo Santos Coelho e tem 21 anos. O que se sabe dele?

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Detenção do Reino Unido, mas residência em Portugal. O jovem de 21 anos foi detido no Reino Unido no passado dia 31 de janeiro, na sequência de um mandado de detenção emitido pelos Estados Unidos. Mais propriamente, a detenção aconteceu em Croydon, um bairro na zona sul de Londres. Isto não significa que Diogo Santos Coelho vivesse em Londres: no momento da detenção, encontrava-se no Reino Unido, mas tem residência em Portugal, segundo detalhou o diretor da Unidade de Combate ao Cibercrime da PJ, Carlos Cabreiro, numa conferência de imprensa dada esta terça-feira.

Português acusado de lider uma das maiores plataformas de hackers do mundo detido no Reino Unido

Indiciado por seis crimes. O Tribunal de Eastern District of Virginia abriu um inquérito contra Diogo Santos Coelho, indiciado por seis crimes: um de conspiração, quatro de fraude informática e um de roubo de identidade agravado, de acordo com despacho de indiciação do tribunal.

Fórum criado em 2015. A investigação do FBI permitiu até ao momento concluir que, “entre 1 de janeiro de 2015 e 31 de janeiro de 2022, Diogo Santos Coelho alegadamente controlava e atuava como administrador-chefe do RaidForums”, segundo se lê no comunicado emitido pelo tribunal. De acordo com despacho de indiciação, o site gerido pelo jovem português continha cerca de 10 mil milhões de registos individuais. O Departamento de Justiça norte-americano refere que, “no momento em que foi fundado, em 2015, o RaidForums também funcionava como um site para a organização de e apoio a formas de perseguição através de meios eletrónicos”.

Suspeito servia de intermediário entre vendedores e compradores. Além de administrar o site, Diogo Santos Coelho oferecia também um serviço de intermediação entre os vendedores dos dados hackeados e os compradores interessados nesses dados. Ou seja, segundo está explicado no despacho de indiciação, o jovem de 21 anos recebia as bases de dados do vendedor para analisar e verificar o seu conteúdo e depois recebia, do comprador interessado, o pagamento em criptomoedas. “Quando ambas as partes estivessem satisfeitas, Diogo Santos Coelho libertava as criptomoedas para o vendedor e as bases de dados ao comprador”, lê-se no documento.

Era ajudado por outros dois administradores. Diogo Santos Coelho “operava com a ajuda de outros dois administradores de sites” que se encontram também detidos, indica também o comunicado. “Como administradores, [Diogo Santos] Coelho e os seus co-conspiradores alegadamente projetaram e administraram o software e a infraestrutura de computadores da plataforma, estabeleceram e aplicaram regras para seus utilizadores e criaram e gerenciaram secções do site dedicadas à promoção da compra e venda de contrabando, incluindo uma secção intitulada “Leaks Market”, descrita como ‘um local para comprar/vender/trocar bases de dados e fugas de informação'”, lê-se no comunicado.

Jovem aguarda extradição. Diogo Santos Coelho encontra-se detido e vai permanecer preso até ser extraditado. A extradição do jovem está a ser requerida pelos Estados Unidos, segundo explicou o diretor da Unidade de Combate ao Cibercrime, Carlos Cabreiro.